Da gama de monstros que os filmes de terror e suspense oferecem, confesso que a temática zumbi é uma das que menos me interessa. Lógico que reconheço o clássico A noite dos mortos-vivos do George Romero e me estrago de rir com Zumbilândia, mas fora isso é muito difícil a temática me prender por duas horas.
Por isso mesmo que me surpreendeu tanto o thriller coreano Invasão Zumbi (originalmente Train do Busan, o que faz muito mais sentido). Terror coreano não é surpresa pra ninguém, mas geralmente o foco deles é em fantasmas e menininhas assustadoras com aquele cabelão escorrido. Ao apostar em zumbis, o diretor Sang-ho Yeon consegue quebrar tanto os paradigmas do terror coreano como alguns clichês tão comuns em Hollywood.
A história dos ataques a gente meio que já conhece: eles começam do nada e conforme um zumbi ataca uma pessoa, ela própria se junta ao “outro lado”. O legal aqui é que 80% da ação se passa dentro de um trem a caminho da cidade de Busan (entendeu por que o título em português é tão tosco?). Pensa: tem pouco espaço, pouco tempo para reagir, nenhum lugar para fugir de verdade e a melhor chance de sobrevivência é isolar os zumbis dos demais vagões e desembarcar na próxima estação… ou não.
Conforme a viagem segue e o terror vai se instaurando, as pessoas percebem que o trem, que era a sua condenação, pode ser a sua única chance de sobrevivência. Isso porque as estações pelas quais o trem passa estão ainda mais infestadas de zumbis. E esqueça aqueles seres lentos e meio patéticos, os zumbis aqui são rápidos e bem violentos.
A trama central fica em torno de um pai e uma filha que estão a caminho de Busan para que a menina possa visitar a mãe. O pai segue aquele arquétipo clássico do executivo que pouco se importa com a vida pessoal, mas que ao longo do filme caminha para a sua redenção. Além deles, temos alguns personagens coadjuvantes que geram a empatia necessária para que o espectador torça por eles (e queira a morte de outros): a grávida com o marido metido a machão, o casal adolescente, o time de beisebol as irmãs mais velhas, o mendigo que ninguém dá muito crédito e aquele cara que é simplesmente a pior pessoa do filme e você torce muito para que ele se ferre. Não há muita ambientação aqui, só sabemos o suficiente de cada personagem para saber o que esperar deles (ou não).
As sequências são eletrizantes e prendem a atenção desde que começam os ataques. O destino incerto de cada personagem e do próprio trem também acrescenta um suspense ainda mais intenso ao filme: afinal, chegar em Busan seria a solução ou a cidade estaria ainda mais tomada pelos zumbis? O fato de tudo acontecer em um trem levanta algumas questões morais bem interessantes dos personagens sobre preconceito e segregação. Aqui, o instinto de sobrevivência e o medo despertam o que há de pior em pessoas tidas como “cidadãos de bem”. É uma reflexão bem complicada, afinal ninguém sabe como iria reagir em uma situação destas na luta para se defender. Neste aspecto, é a pureza da criança que dá um pouco de luz em meio ao caos, mas nesta altura a gente até perdoa o clichê.
A qualidade da produção pode até ser comparada a de Hollywood, mas a gente sabe que não é um filme da terra do Tio Trump quando ninguém atira nos zumbis. Ninguém no trem ou nas estações tem uma arma, o que dificulta ainda mais a reação aos ataques. Se fosse na ‘Murica’, a própria menininha teria sacado uma pistola que teria acabado de ganhar de presente de aniversário.
A única coisa que achei realmente desnecessária na história foi tentar dar uma explicação à origem dos ataques em determinado momento do filme. Não casou com o resto da proposta, de um episódio isolado sem muita explicação e muita ação. A explicação não acrescentou nada à trama, não deu chance de reação aos personagens e poderia facilmente ter ficado de fora.
Pra quem curte ação do início fim com um pouco mais de conteúdo e zero lenga-lenga, é uma ótima pedida! Pra quem gosta de andar de trem, preste mais atenção no vagão e nas pessoas à sua volta na próxima viagem.
Nota:
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