Capote e Confidencial | Duas visões sobre Truman Capote

Quem assistiu Capote (2005), filme que deu a Philip Seymour Hoffmann o Oscar de Melhor Ator, acompanhou um episódio na vida do escritor Truman Capote em que ele dá um importante salto em sua carreira: deixa de escrever apenas romances para se aventurar no jornalismo investigativo e criar um novo gênero literário que mistura realidade e ficção. Mas alguém aí já leu a obra que atormentou Capote por tanto tempo?

Para estudantes de jornalismo a leitura é obrigatória. No meu caso, essa obrigatoriedade foi literal mesmo, eu li o livro no sétimo semestre da faculdade pois fazia parte da grade de jornalismo literário daquele semestre. Mas para quem não estudou comunicação o livro À sangue frio não deixa de ser uma boa leitura.

Na obra, Capote contextualiza a vida da família Cuttler, brutalmente assassinada algumas páginas mais adiante por Perry Smith e Richard Hickock (Dick). O livro não se limita à investigação dos autores do assassinato, como nos clássicos “whodonits” da literatura policial. O autor acompanha o processo de julgamento e execução dos assassinos.

O mais legal aqui é que Capote não é uma adaptação do livro, e sim, todo o processo de bastidores que levaram à publicação da obra. Menos de um ano depois da estreia do filme, um outro surgiu para contar a mesma história, mas de uma forma um pouco diferente. Confidencial (2006) traz um Truman Capote (Toby Jones) muito mais passional, ambicioso e infame do que aquele interpretado por Philip Seymour Hoffmann. É quase uma versão politicamente incorreta e mais ousada do oscarizável.

Uma comparação bem interessante de se fazer entre o livro e os dois filmes é o conflito que Truman Capote enfrenta ao se aproximar demais de um dos assassinos, Perry. No livro esse romance é muito subliminar e os menos atentos talvez nem percebam. Mas como a obra foi escrita por Capote, a gente percebe uma certa admiração e humanização acima do normal de um assassino. No livro, Perry é quase retratado como uma vítima das circunstâncias. Em Capote, o sentimento está um pouco mais visível, mas de uma forma bem contida e até prejudicial para o autor. Já em Confidencial, Capote é um personagem muito mais manipulativo e essa paixão fica bem evidente. Rola até cena de beijo entre Toby Jones e Daniel Craig, que interpreta Perry.

Aliás, Confidencial tem um elenco bem mais estrelado do que seu irmão Capote. Aqui tem Sandra Bullock, Gwyneth Paltrow, Sigourney Weaver e por aí vai. Apesar de ter sido ofuscado pela aclamação do outro filme, ainda é uma boa opção para entender um pouco melhor quem realmente foi Truman Capote e o que esta obra representou para ele.

O que ver primeiro?

Eu sempre sou da opinião de que a gente deve ver ou ler as coisas em ordem cronológica de lançamento, o que neste caso seria o livro. Mas como não estamos falando de uma adaptação e sim de uma obra de bastidores, assistir aos filmes pode até proporcionar uma leitura muito mais crítica de À sangue frio. De qualquer forma, todos os três devem ser conferidos em algum momento.

Qual é o melhor?

Entre o livro e os filmes não dá pra fazer a comparação porque não se tratam de adaptações do livro, e sim, de bastidores. Entre os dois filmes, apesar da diversão de Confidencial, eu ainda acho Capote mais bem cuidado, escrito, dirigido e, obviamente, estrelado. Não é à toa que o Philip levou o Oscar pra casa. Mas a diferença de qualidade entre os dois não é tão gritante assim, então vale assistir os dois filmes e comparar.

 

Trailer de Capote

Nota:

Nota de Confidencial:

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