Em um mercado quase que ditado por comédias vazias e comerciais e filmes conceituais que dificilmente atingem o público, Entre Irmãs, do diretor Breno Silveira, consegue encontrar um meio termo com potencial comercial, bom desempenho técnico e uma história que não se envergonha de apelar para as emoções das pessoas.
O filme conta a história de duas irmãs: Luzia (Nanda Costa) e Emília (Marjorie Estiano), criadas no interior de Pernambuco, na cidade de Taquaritinga do Norte, pela tia. Enquanto Luzia tem uma personalidade mais impetuosa, Emília é mais romântica e sonha em casar com um príncipe e ir morar na capital. Desde o começo fica claro que a relação das duas não é das melhores, mas que ainda assim, há grande afeto em meio às diferenças.
O destino faz com que elas sejam separadas para realidades bem distintas: Luzia é sequestrada por um bando de cangaceiros e Emília consegue se casar com um aristocrata de Recife. A partir daí há uma bela história sobre amadurecimento, laços fraternais e até algumas pitadas de crítica social em temas como feminismo, política e homossexualidade. Há um paralelo bem legal na vida das duas, que ficam sabendo do que está acontecendo com a irmã através dos jornais.
A produção conta com praticamente todos os elementos que um épico costuma ter: ótima caracterização da década de 1930, seja no sertão ou na capital, fotografia exuberante, trilha sonora melodramática (até demais) e uma história que tem o objetivo de emocionar o público. De alguma forma pode ser comparado com produções como … E o vento levou, que também aborda o amadurecimento feminino dos sonhos para uma realidade muito longe daquela idealizada.
As duas protagonistas, apesar de mais acostumadas às novelas globais, provam que conseguem ter desenvoltura para o cinema em personagens que são verdadeiras sobreviventes das circunstâncias. A Marjorie Estiano está em sua melhor forma e é provavelmente uma das atrizes brasileiras mais relevantes na atualidade. Entre os coadjuvantes, as atuações mais dignas são as de Júlio Machado, que interpreta o cangaceiro Carcará, e Cláudio Jaborandy, no papel de Dr. Duarte, sogro de Emília, que é o melhor exemplo de “cidadão de bem” que você vai ver no cinema brasileiro.
Mas o filme está longe de ser impecável. Com 2h46 de duração, ele até flui bem, mas ali pelo final do segundo ato a coisa desanda e se torna cansativa. Parece que há uma necessidade do roteiro de amarrar todas as pontinhas, o que deixou o filme longo e com um desfecho clichê demais. Há uma subtrama envolvendo Emília e uma amiga na capital que não acrescenta muita coisa à história. Aliás, o filme poderia ter acabado logo após o reencontro das duas irmãs, com um final mais aberto, que teria sido mais interessante e emblemático. As lições de moral que se seguiram após isso ficaram bobinhas demais.
De qualquer forma, Entre Irmãs é um bom exemplo de épico brasileiro com protagonistas mulheres, o que, acredite, é mais raro do que você imagina. A longa duração pode ser um problema, mas é um filme com potencial para agradar tanto os amantes do cinema (de qualquer lugar do mundo) como as pessoas que gostam de novelas e minisséries de época.
Nota:
Veja também: Como o Brasil escolhe os filmes indicados ao Oscar