Críticas

Transamérica | Mais relevante do que nunca


 

Uma mulher que interpreta uma transexual pré-cirurgia que descobre que tem um filho de quando ainda possuía identidade masculina. Foi isso o que despertou a minha curiosidade para assistir Transamérica (2005), que estava rendendo indicações à atriz Felicity Huffmann nas principais premiações de cinema. Mas a experiência foi muito mais satisfatória do que a minha mera curiosidade esperava.

Na história, Bree (Felicity Huffmann) está prestes a fazer a cirurgia de mudança de sexo (de homem para mulher), quando recebe uma ligação perguntando por Stanley (sua antiga identidade), pois o filho dele estava precisando que fosse paga a fiança para que ele saísse da cadeia. O motivo da prisão? Prostituição. Com esta novidade, a terapeuta de Bree a impede de realizar a cirurgia enquanto ela ainda não tiver algum desfecho e paz de espírito em relação a isso.

Por isso, Bree vai até Nova York (ela mora em Los Angeles) e se passa por uma missionária que quer ajudar Toby (Kevin Zegers), que sabe quase nada sobre o seu pai biológico e sonha em trabalhar na indústria pornográfica em Los Angeles. É.

Tudo pode parecer uma história com o peso de uma produção de Almodóvar, que gosta de escavar as personalidades das personagens assim. No entanto, Transamérica é um road movie leve e divertido, sobre pessoas que não se conhecem e ainda assim precisam conviver diante das circunstâncias.

 


 

Além do roteiro super original e bem conduzido, quem rouba a cena aqui é Felicity Huffmann, que desenvolveu expressões e até uma voz exclusiva para Bree. Para quem se acostumou a assisti-la enlouquecida pelas traquinagens dos filhos em Desperate Housewives é até difícil assimilar que se trata da mesma atriz. Sua personagem é na maior parte do tempo serena e inabalável em relação a sua identidade, mas ainda há algumas situações que pisam nos seus calos, principalmente no que se refere às relações familiares.

Uma coisa que eu acho sensacional do filme é tratar toda a questão da transexualidade com naturalidade e seriedade, sem criar tabus, situações de escárnio ou vitimizar a personagem, que está muito bem com quem ela é. É quase como se a série Transparent encontrasse Pequena Miss Sunshine, se é que você consegue imaginar algo do tipo.

Aliás, já que estamos falando de outras produções, vale chamar a atenção para a popularização de produções que abordam a questão de transgêneros e transexuais, como a série Transparent, o documentário Laerte-se e o reality Ru Paul’s Drag Race. Até mesmo em meios mais “acessíveis” a questão já está sendo abordada, como na novela e na música brasileira, com o sucesso da drag Pabllo Vittar. Mas lá em 2005 Transamérica era uma novidade, o que mantém o filme mais relevante do que nunca nos dias de hoje.

Embora trate de questões complicadas e ainda estranhas à maior parte do público, o roteirista e diretor Duncan Tucker consegue trazer os problemas dos personagens para perto de todos nós. Há tanta pureza e naturalidade na história que ela parece ser possível de acontecer em qualquer família. Provavelmente porque problemas familiares e de aceitação acontecem todos os dias com todas as pessoas.

Nota:

Trailer de Transamérica

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