Críticas

Você nem Imagina | Mais um filme adolescente da Netflix

A Netflix continua na sua saga de entregar filmes adolescentes de narrativa simples, atores desconhecidos, baixo orçamento e baixo risco. Você nem imagina é uma das produções que se encaixa nesta fórmula e sai levemente na frente pelo carisma do duo de protagonistas.

A narrativa corre em torno de Ellie (Leah Lewis), uma garota nerd que, apesar de tímida, consegue se manter bem-resolvida vendendo trabalhos escolares para os colegas e cobrindo os turnos do pai, que mal fala inglês (ele veio da China e ela foi criada desde pequena nos Estados Unidos). A história acontece quando Paul (Daniel Diemer), um colega que joga futebol americano, quer impressionar Aster (Alexxis Lemire), a garota que ele gosta. Como Paul não tem muito jeito com as palavras, ele recorre a Ellie para que ela escreva uma carta à amada.

Claro que a coisa não para em apenas uma carta e essa dinâmica de ghost writing se estende ao longo do filme, rendendo algumas situações até engraçadas nos encontros entre Paul e Aster. Só que ao longo do caminho Ellie se vê apaixonada por Aster, formando um triângulo amoroso adolescente na pequena cidade de Squahamish.

Se você tem a impressão de que já viu esta história antes é porque já viu mesmo. O enredo se inspira na peça teatral Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, que já foi adaptada e repaginada exaustivas vezes. Aliás, a própria Netflix é responsável por uma das releituras mais recentes, com o também filme teen Sierra Burgess é uma loser.

Afinal, Você nem Imagina presta?

Olha, vou confessar que mesmo sabendo se tratar de um romance adolescente, o trailer de Você nem Imagina promete um pouco mais. É um dos clássicos exemplos em que todas as melhores cenas foram utilizadas no preview e quando você assiste o filme sobra pouca coisa ali.

Um dos meus principais problemas foi justamente entender a pira com a tal da Aster e por que todo mundo era tão apaixonado assim por ela. A personagem, apesar de bonita (e aparentar ser uns 8 anos mais velha do que a idade que ela deveria ter), não exprime muito bem de por que ela era tão legal e por que os dois se interessariam por ela. Do lado da Ellie faz um pouco de sentido por elas serem do grupo musical do colégio – e por Aster ser gentil com ela, mesmo sendo do grupo dos “populares”. Mas Paul basicamente se apaixonou pela voz e eu achei que a gente já tinha superado isso em A Pequena Sereia. Enfim, faltou desenvolver a personagem da Aster pra convencer o público do seu magnetismo.

Fora outros clichês do gênero (as loiras que se vestem igual, a autossabotagem de Ellie em não tentar uma faculdade melhor), o que sustenta boa parte do filme é a dinâmica entre Ellie e Paul. Você nem Imagina acerta em não cair na vala de transformar os dois em um casal e em desenvolver uma amizade genuína, pautado pela ideia de que amor não precisa existir somente na forma romântica, mas também nesta parceria.

O lance da homossexualidade de Ellie é tratada de uma forma bem respeitosa e até bem discreta, não fazendo grande alarde quanto a isso. Eles até jogam alguns estigmas com base em uma comunidade altamente religiosa, o que poderia ser um tema polêmico no meio do filme, mas que tiraria o foco do que a história realmente quer trabalhar (a amizade dos dois).

Uma pena que no terceiro ato a diretora e roteirista Alice Wu acelerou um pouco as coisas, deixando se perder um pouco a importância das revelações finais, o processo de decisão de Ellie e deixando pontas soltas na trajetória de alguns personagens. Um pouco mais de cuidado aqui poderia ter deixado o filme melhor polido e ter transmitido uma mensagem um pouco mais significativa.

De qualquer forma, Você nem Imagina é um filme leve, de roteiro simples e com uma agenda positiva, daqueles que parece fazer um cafuné no cérebro. Não espere nada muito diferente dos filmes vanila que a Netflix lança neste subgênero e você não se arrependerá de investir 1h44 nesta história.

Nota:

Imagens: © Netflix

 

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