Críticas

O Caderno de Sara | Uma jornada a lugar algum

 

Uma desesperada busca pela irmã na África Central é o tema de O Caderno de Sara, filme espanhol que recentemente chegou ao catálogo da Netflix Brasil. O filme explora o cenário desesperador de populações na República Democrática do Congo que convivem com a violência das gangues locais que exploram a extração de minerais utilizados em artefatos tecnológicos.

A protagonista é Laura (Belén Rueda), uma advogada de Madri que, após ver uma foto de sua irmã Sara (Marian Álvarez) decide procurá-la na África, onde ela desapareceu há dois anos para realizar trabalhos humanitários como médica. Em sua jornada, Laura encontra diversas pessoas que podem ajudá-la em sua busca, mas ao mesmo tempo passa pelos perigos de uma região de mata conhecida pela violência de gangues que matam vilarejos inteiros e sequestram jovens homens para que eles trabalhem nas minas.

Embora seja marcado por muita ação, com direito a tiroteios em aviões, perseguições em terra e a destruição de um vilarejo inteiro, o roteiro rapidamente consegue se tornar monótono pela repetição de sua fórmula. Um evento recorrente nas quase 2h de filme: Laura conhece alguém que pode ajudá-la, há um ataque, somente ela e um jovem local, Jamir (Iván Mendes), saem ilesos, até conhecerem uma nova pessoa que pode ajudá-los e o ciclo se repete. Além de preguiçoso, subestima a inteligência do espectador.

Outra falha do roteiro é a falta de contextualização para a história e para o surgimento de alguns personagens, que entram na história meio que por passe de mágica. Beleza, na cena pré-créditos podemos ver a foto de Sara ser tirada, mas em momento algum explicam como Laura viu o a foto, como ela sabia que se tratava de algo recente e o que ela estava deixando para trás em Madri nesta jornada – há uma menção a venda de ações que não explicam praticamente nada.

 


 

Da mesma forma, as pessoas que conseguem ajudar Laura na busca caem de paraquedas na história. Sabemos que o tal do Sven (Nick Devlin) tinha algum tipo de relacionamento com Sara, é ele quem coloca Laura no caminho certo e, como uma fada madrinha, insere o maior aliado de Laura na história: Jamir, um jovem que conseguiu fugir da violência das gangues lá que eu falei. Embora ele permaneça por boa parte do filme, não há muita vontade em desenvolver o personagem, que cai no clichê do cara quietão, que já sofreu muito e é movido por uma vingança pessoal.

Embora trate a questão da exploração de minerais e da violência causada por isso de forma bem superficial, um ponto me chamou a atenção: a imobilidade de órgãos internacionais em proteger a população local. Mais de uma vez Laura consegue o auxílio da ONU, mas descobre que o órgão não se dispõe a ajudar Jamir, sob a alegação de que eles “não podem tomar partido”. Em alguns momentos, eles só parecem estar lá para ajudar os estrangeiros que decidem se aventurar pela região, deixando de lado as pessoas que mais sofrem com a violência.

Passada a sequência de ajuda / ataque / foge, o desfecho do filme ainda consegue ser bem previsível e acabar como um retrato simplista de todos os horrores que ocorrem nestas regiões. Fica descartável e esquecível, muito abaixo do que se espera de um filme disposto a mostrar uma realidade tão dura e que ainda mata milhares de pessoas no nosso planeta.

Nota:

Trailer de O Caderno de Sara

Imagens: Netflix

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