Críticas

O menino que descobriu o vento | Inspirador, mas meio óbvio

Em seu primeiro longa como diretor, o ator Chiwetel Ejiofor faz de O menino que descobriu o vento um filme inspirador baseado na história do hoje engenheiro William Kamkwamba e de como ele conseguiu produzir energia elétrica para a sua tribo no Malawi. Embora a conquista de William seja algo realmente notável, Ejiofor elevou o tom dramático para valorizar ainda mais a conquista do garoto.

Em um vilarejo no Malawi em 2001 a população tem problemas com a seca e com a constante desvalorização dos grãos vendidos por eles. Neste cenário, Trywell (Chiwetel Ejiofor) é um pai de família que passa dificuldades na criação dos filhos, não conseguindo pagar a escolha do brilhante William (Maxwell Simba) e não conseguindo mandar sua filha mais velha Agnes (Aïssa Maïga) para a faculdade.

William é quase um prodígio, já conhecido no vilarejo por consertar os rádios das pessoas. Mesmo sem poder frequentar a escola por falta de pagamento das mensalidades, ele dá um jeito de passar seu tempo na biblioteca estudando uma forma de produzir energia elétrica – e também para não precisar passar este tempo trabalhando nas plantações.

A primeira metade do filme é de pura contextualização para que o público conheça principalmente William e sua família, dos objetivos que Trywell tem para os filhos e para os problemas do país, repleto de políticos corruptos que só veem seus próprios interesses e não tomam medidas para melhorar as vidas das pessoas (soa familiar?). Um grande problema também surge nesta primeira metade: a troca da agricultura, que não permite a retenção de água, e um período de seca ameaçam a própria existência da vila, que começa a ter problemas com a escassez de alimentos.

É neste contexto que a invenção de William seria extremamente útil: a ideia dele é construir um moinho de vento capaz de bombear água do poço para a plantação, garantindo a colheita mesmo em tempos de seca. Só que esta parte só começa a engrenar mesmo lá pelos últimos 40 minutos de filme ou menos.

Ejiofor, que trabalhou também na adaptação do roteiro, elevou o tom de drama com elementos como pobreza, fome e desespero. Ele expõe o risco real de a vila deixar de existir por causa da seca. Apesar disso, o diretor não consegue criar um clima de suspense que mantenha o espectador investido ao longo das quase 2h de filme.

Tudo na primeira metade do filme serve apenas para criar um cenário e, ainda assim, parece um tanto familiar. Mesmo com o belo trabalho de fotografia para mostrar a aridez e a desolação daquela região a história não parece fresca. Até mesmo os personagens parecem ter apenas uma camada: a do pai preocupado com o futuro dos filhos, do filho que é um gênio mas tem que jogar contra as circunstâncias, da irmã mais velha que quer escolher quem ela pode amar… É um ritmo tão arrastado que o diretor corre o risco de perder o seu espectador (principalmente por ser um filme lançado na Netflix) antes da guinada da história, que é a melhor parte.

De forma inversa ao ritmo lento da primeira metade, o trabalho de William para a construção do moinho de vento parece um tanto rápida e fácil. Tudo bem que ele enfrentou alguns obstáculos, principalmente por parte do pai que não quis ceder sua bicicleta para a construção da engenhoca. Ainda assim, o roteiro de O menino que descobriu o vento não consegue criar um suspense em torno do sucesso da invenção de William. Ele tem convicção de que o moinho funcionará e isso é suficiente. Seria interessante conhecer um pouco mais deste processo, principalmente por ser uma história real.

De forma geral, ainda é uma bela história para se inspirar em como encontrar soluções nos ambientes mais hostis. Chiwetel Ejiofor surge como um diretor promissor e conseguiu deixar aquela curiosidade para os próximos filmes feitos por ele. Quanto à história de William, há alguns TED Talks com a participação dele que vale a pena assistir.

Nota de O menino que descobriu o vento:

Imagens: © Netflix

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