O mínimo para viver | Apenas o primeiro passo da discussão

Em um mundo com pessoas cada vez mais ansiosas e pressionadas para seguir um determinado padrão, o filme O mínimo para viver levanta um distúrbio raramente discutido na indústria cinematográfica: a anorexia. A produção da Netflix traz como protagonista a atriz Lily Collins (filha do Phil Collins), que inclusive já teve distúrbios alimentares na adolescência (a Lily, não o Phil).

Na trama, Lily é Ellen, uma garota de 20 anos que foi meio que expulsa da última clínica de tratamento em que ela estava para encarar um método meio alternativo com o tal do Dr. Beckham (Keanu Reeves). Não é uma história sobre a origem do problema, Ellen já convive com a anorexia há algum tempo e o tratamento de Beckham é quase que uma última solução proposta pela família dela.

Exato, eu digo pela família dela porque, para Ellen, ela não tem um problema. Na cabeça dela está tudo sob controle. Não precisamos de mais de cinco minutos de filme pra constatar que ela não tem razão nisso.

A protagonista é sarcástica e com um senso de humor meio obscuro, o que pode levar algumas pessoas a acharem que acabe romantizando um pouco o lance do distúrbio alimentar. Nesse ponto eu não vi muito problema, porque acredito que tem muita gente nesta situação: que realmente acha que está no controle da situação. E isso não acontece apenas com anorexia, não é mesmo?

No tratamento do Dr. Beckham ela vai para uma casa que é quase um Orfanato Raio de Luz do distúrbio alimentar. Ela convive com outras pessoas que enfrentam o problema de diferentes formas e com diferentes tamanhos. Sim, porque a anorexia não existe só em modelos esqueléticas. Nisso achei o filme bem responsável até.

Aliás, o filme busca ser o mais responsável possível para não encorajar as pessoas que já possuem ou tenham predisposição a distúrbios alimentares. Só que talvez esse excesso de cuidado tenha deixado o filme um pouco superficial. Pra quem está de fora, é quase que uma amostra grátis do que os distúrbios alimentares podem causar, sem deixar clara a gravidade do tema. A própria Ellen sofre pouco com os efeitos da anorexia. Beleza, ela perde peso e desmaia, mas faltou colocar um pouco mais o dedo na ferida. O filme poderia ter ousado um pouco mais neste sentido.

Não posso falar do tipo de sentimento que o filme desperta em quem enfrenta o problema, mas vi opiniões bem divergentes deste público. Alguns defendem que o filme é muito raso e fora da realidade, enquanto outros realmente se viram na pele da protagonista e se emocionaram ao vê-la repetindo frases que eles próprios disseram. As experiências de cada um são únicas e dificilmente o filme conseguiria abraçar toda a audiência, mas nem por isso ele perde o seu valor.

Em se tratando de uma produção da Netflix é um bom exemplo (até porque filmes ainda não são o forte deles) e em relação à anorexia pode ser o começo de uma discussão importante. Isso, é claro, se Hollywood quiser levantar o assunto. Assim como a da moda, a indústria do entretenimento ainda peca muito na falta de diversidade, com 140% de protagonistas magros e com um padrão quase inatingível de “beleza”. Fica a cobrança para que uma indústria que, por tanto tempo tem sido parte do problema, comece a levantar o assunto para se tornar parte da solução.

Nota:

Imagens: © 2017 – Netflix

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Trailer de O mínimo para viver