Críticas

O Paradoxo Cloverfield | Bagunça cósmica no universo de J. J. Abrams


 

A Paramount e a Netflix pegaram todo mundo de surpresa em pleno Super Bowl e anunciaram o lançamento de O Paradoxo Cloverfield no serviço de streaming no melhor estilo Beyoncé ou gravidez da Kylie Jenner. Não precisa avançar muito no filme pra entender por que eles preferiram fazer isso do que lançar o filme nos cinemas…

Esta é a terceira produção que faz parte do “universo Cloverfield” criado por J.J. Abrams. O primeiro saiu em 2008 e é baseado em “filmagens encontradas” de um celular durante um ataque em Nova York. É quase como se Bruxa de Blair encontrasse Godzilla. O segundo, lançado em 2016, tem uma história completamente diferente e se passa em um bunker de um cara com intenções suspeitas. Só na segunda metade é que vamos entender a conexão com este universo. O terceiro, lançado direto na Netflix, é uma ficção científica que tem a missão de fornecer alguma explicação para o monstro. E, bom, ele explica.

Devido a uma crise energética em todo o planeta, uma missão espacial com pessoas de diversos países e diversas profissões busca uma fonte inesgotável de eletricidade. Depois de dois anos de tentativas frustradas, eles finalmente conseguem fazer o dispositivo funcionar, mas coisas muito sinistras acontecem por causa disso: eles não estão mais orbitando a Terra, a bússola da nave desaparece misteriosamente e aparentemente a nave está tentando matar toda a tripulação.

Apesar de todo o clima “United Colors of Benetton” parecer interessante, logo de cara a gente vê erros grosseiros de casting: um brasileiro interpretado por um americano descendente de porto-riquenhos e um russo interpretado por um norueguês são apenas parte do problema. Apesar de querer criar esse clima de diversidade, não tem ninguém de algum país árabe ou africano, por exemplo. E não me perguntem por que tinha um irlandês no time, mesmo a Irlanda não possuindo uma agência espacial. Faria mais sentido a Índia estar lá, por exemplo. Mas entendo que eles colocaram o irlandês lá pra dar um toque de humor, embora ele visivelmente preferisse estar no pub.

 


 

Como comentei, a missão deste filme é dar a explicação para os eventos dos outros dois filmes. Eles meio que fazem isso e eu meio que preferia que eles não tivessem feito e o mistério tivesse permanecido. Sabe aquela desculpa do “cachorro comeu meu dever de casa”? Então, é quase isso. Pegaram qualquer clichê de ficção científica e tentaram usar como argumento. Ficou fraco.

Aliás, clichê de ficção científica é o que mais tem aqui: tretas internas entre os tripulantes, coisas inexplicáveis acontecendo, a nave tentando matar todo mundo… E não pense que eles se preocupam em explicar esses outros eventos. Eles simplesmente acontecem. Aliás, a segunda metade do filme é quase um slasher adolescente: mortes em série de formas tão bizarras que deixariam Tucker and Dale orgulhosos.

Apesar de um elenco com nomes bacanas, como Daniel Brühl e David Oyelowo, não há desenvolvimento algum de personagem, a não ser da protagonista interpretada por Gugu Mbatha-Raw. As atuações parecem ser de filme B e quando alguns personagens morrem a gente simplesmente não se importa. Não sei se quiseram fazer algo meio no estilo de Alien, mas se foi isso não deu certo.

Eu acho muito interessante a proposta do J.J. com o universo de Cloverfield: filmes de gêneros diferentes, com elencos, diretores e produções totalmente distintas, mas que fazem sentido dentro do todo. É quase que um Black Mirror, mas com conexões mais óbvias. Bem mais interessante do que as infinitas sagas com continuações cada vez mais repetitivas e desinteressantes.

Embora não seja uma mancha completa no universo, O Paradoxo Cloverfield é o elo mais fraco lançado até aqui. Não é de se surpreender que a Paramount tenha empurrado a distribuição via streaming em vez de correr o risco de ser um fracasso de bilheteria. Fica a torcida para que o próximo volte a deixar este universo interessante.

Nota:

Teaser de O Paradoxo Cloverfield

Imagens: © Netflix

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