Críticas

Um lugar silencioso | Para assistir de bico calado


 

Você conseguiria viver em silêncio absoluto? Em Um lugar silencioso esta capacidade pode determinar a sua sobrevivência. Dirigido e estrelado por John Krasinski, o filme conta um episódio de uma família que vive em um mundo pós-apocalíptico que tem monstros guiados pelo som e a sua única chance de sobrevivência é o silêncio.

A premissa é interessante o suficiente para atrair multidões aos cinemas (a sessão que eu fui estava lotada). Assim como em Invasão Zumbi, não há história de fundo que explique qualquer coisa sobre estes monstros, as nossas únicas pistas são manchetes de jornais noticiando que as criaturas são cegas e guiadas exclusivamente pelo som. Não demora muito pra perceber que não são muitas as pessoas que sobrevivem a elas.

Com um elenco limitado praticamente aos membros da família (pai, mãe e dois filhos), o silêncio é o personagem mais importante aqui. Você logo começa a temer pelos personagens e qualquer ruído no filme passa a ser absolutamente preocupante. É uma construção muito inteligente de suspense e melhor executada do que em O homem nas trevas, que tem uma premissa semelhante em algumas cenas. Com exceção de alguns diálogos, da trilha e dos barulhos que atraem os monstros, o filme é executado em silêncio.

Talvez nem todo mundo se dê conta disso, mas para atores da era do cinema falado (ou seja, praticamente todos os que temos hoje) a fala representa boa parte da atuação (e é por isso que filme dublado é tão diferente do original). Além de não poder verbalizar o que se sente, os atores ainda têm o trabalho extra de internalizar a maior parte dos seus sentimentos, o que envolve não poder gritar por socorro, não poder chorar e não poder comemorar quando algo dá certo. Aqui o destaque fica pra Emily Blunt, que entrega o arco mais dramático e que consegue segurar tudo isso.

 


 

Como a história narra um episódio específico, não há muitas explicações sobre aquele universo e não temos arcos completos de desenvolvimento de personagem. Criaram uma certa dinâmica entre o pai e a filha que não me convenceu muito, mas que tentou explicar um pouco as motivações dos personagens. Não contribui pra história, mas não chega a incomodar.

Assim como a maior parte dos filmes de terror, há furos de roteiro e personagens que tomam decisões absolutamente ilógicas que os colocam em perigo constante. Mas é fácil de relevar até porque a gente não sabe como se comportaria numa situação destas. E né? O que seria de um filme de terror se as pessoas não tomassem decisões erradas?

Por falar em decisões erradas, um dos produtores é ninguém menos do que Michael Bay. O que faz todo o sentido porque há uma cena em que são utilizados fogos de artifício para distrair os monstros. Tenho certeza de que esta foi a contribuição dele pro filme.

A minha única reclamação é a não existência dos monstros nas salas de cinema pra levarem embora as pessoas que não conseguem fechar a matraca por 1h30. Como já falei, o silêncio é um personagem crucial para o filme e se as pessoas no cinema ficarem tagarelando boa parte da sua experiência vai pras cucuias. Tive este problema (como já falei, sala cheia) e parte da minha avaliação pode estar prejudicada por isso. Se você não consegue ficar quieto por 1h30, deixe para assistir em casa e não prejudicar a experiência do coleguinha, ok?

Nota:

Trailer de Um lugar silencioso

Imagens: Jonny Cournoyer – © 2018 Paramount Pictures