Você já sentiu que alguns lugares podem refletir um estado de espírito? Em Temporada de Caza a diretora estreante Natalia Garagiola, que também assina o roteiro, utiliza as gélidas e desoladas paisagens da Patagônia para transmitir o luto, a culpa e a introspecção de seus personagens. O longa argentino está disponível no catálogo da Netflix.
O protagonista é o adolescente Nahuel (Lautaro Bettoni), que começa a mostrar comportamentos agressivos após a morte de sua mãe por câncer. Após ser expulso de sua escola em Buenos Aires por se envolver em brigas, seu padrasto Bautista (Boy Olmi) decide enviá-lo para uma espécie de exílio na Patagônia, onde o pai biológico do rapaz, Ernesto (Germán Palacios), é um respeitado guia de caça na região.
Não demora muito pra gente sacar que a relação entre Nahuel e Ernesto não é das melhores (e nem é por causa do nome que o guri ganhou). Ernesto esteve ausente por praticamente toda a vida de Nahuel, que também nunca fez muita questão de conhecer seu pai biológico. Além de morar com o pai, ele divide a casa com a nova família de Ernesto, com uma mulher bem mais jovem e três meninas.
O que se desenrola a partir daí é bem aquela fórmula do jovem rebelde que não se adapta à nova rotina, algo entre Gênio indomável e No balanço do amor, mas sem equações matemáticas e sem balé. A muito custo, os dois formam um laço por meio da caça, mas também não viram melhores amigos.
Por se tratar de um filme bem introspectivo o clima é pesado e o ritmo um tanto lento. Pode parecer indigesto, mas Natalia Garagiola consegue orquestrar os sentimentos dos personagens em sintonia com a desolação das paisagens da Patagônia. Tudo é muito bem medido pra não ficar melodramático demais e para que as imagens não se pareçam com um documentário da National Geographic.
A fotografia parece ser feita quase toda em luz natural, o que deixa tudo bem acinzentado. O lance de ser tudo filmado no ombro, com aquela tremedeira característica me irritou um pouco, mas dá o tom intimista que a diretora pretendia para a sua história.
Por ser um filme introspectivo não há muitos diálogos ou frases de efeito, mas a história acontece por meio das expressões dos personagens. É preciso ter atenção aos detalhes aqui. A raiva nem um pouco reprimida de Nahuel, a culpa de Ernesto por se manter longe do filho por tanto tempo e até mesmo a emoção de Bautista quando é chamado de pai. Tudo isso diz muito mais do que qualquer verbalização.
Eu sinceramente não sei se é o tipo de filme que eu vou querer assistir de novo, mas não dá pra negar os méritos da produção em contar uma história de forma humana e sem os moralismos tão comuns em Hollywood. O arco dos personagens pode ser menor do que o que muita gente espera em um filme destes, mas nem por isso deixa de ter verdade.
Nota:
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