Críticas

A Lavanderia | Filme sobre Panama Papers peca pela superficialidade e escracho com personagens

Com um curto fôlego, A Lavanderia é um filme que pulou do Festival de Veneza para a Netflix. Para um longa que pretende ser o primeiro do grande circuito a abordar os Panama Papers, que tem a direção de Steven Soderbergh e elenco com os oscarizados Meryl Streep e Gary Oldman, o resultado é decepcionante.

Com uma abordagem que tenta se aproximar da sagacidade de A Grande Aposta, A Lavanderia tenta divagar entre o humor e a crítica aos esquemas de lavagem de dinheiro sem se aprofundar de forma satisfatória no tema. Se você não entendeu muito bem os Panama Papers, não é este filme que vai te explicar, apesar de ele tentar com uma linguagem que subestima a inteligência do espectador e alguns esquetes que esclarecem alguns pontos, mas não o cenário todo. No final, o filme te faz sentir burro sem te explicar por quê.

Os narradores são dois personagens tirados do mundo real: Jürgen Mossack (Gary Oldman) e Ramón Fonseca (Antonio Banderas) são dois advogados que faziam esquemas com paraísos fiscais para seus clientes, intermediando milhares de empresas de fachada para evitar o pagamento de impostos. De forma bem caricata e canastrona, os dois carregam seus bons drinks tentando explicar como funcionam os paraísos fiscais e quem são algumas das pessoas que recorrem a isso.

A primeira história é estrelada por ninguém menos do que Meryl Streep, que interpreta a personagem fictícia Ellen: uma senhora que fica viúva após um acidente com um barco – o acidente é real. O que acontece é que um rolo no seguro contra acidentes do barco deixa todas as vítimas na mão, sem suas devidas indenizações. Depois de uma tentativa frustrada de comprar o apartamento dos sonhos, ela decide investigar estes esquemas todos.

Afinal, o filme A Lavanderia é bom?

Os problemas do filme já começam logo de cara, com as irritantes interpretações de atores que normalmente temos em alta conta. Meryl Streep tenta se safar com seu papel de velhinha nervosa e injustiçada, mas essa figurinha não cola mais. Ela só conseguiu me deixar nervosa. Se eu fosse uma velhinha nervosa me sentiria ofendida pela performance dela. Gary Oldman é outro problema, ao entregar um dos sotaques alemães mais forçados que eu já ouvi na vida – e olha que eu moro em Blumenau. Do Antonio Banderas a canastrice é meio que esperada, já que a gente nunca sabe muito bem o que esperar dele. Eu só conseguia me lembrar do Gato de Botas de Shrek.

O filme consegue dar uma crescida quando migra para a história de Charles (Nonso Anozie), um cliente de Mossack Fonseca que, segundo eles, é um bom homem que só queria uma vida melhor para a família. O dilema moral do personagem é bem explícito: um homem rico que tenta comprar o silêncio da própria filha quando ela o flagra tendo um caso com a própria colega de quarto da faculdade.

Esta e a história que vem a seguir, sobre o tráfico de órgãos, são os pontos altos do filme e provavelmente o formato que deveria ter sido adotado em todo o longa, deixando um pouco de lado os irritantes narradores e suas taças de Martini. Uma pena que isso chega tarde demais, quando o espectador já está irritado com o ritmo errático da história e as decepcionantes atuações.

O final volta ao tom claudicante da primeira metade do filme. O encerramento se dá com a inevitável prisão dos advogados e a explicação sacana deles de que esta é somente a ponta do iceberg e que há ainda muitas pessoas poderosas se utilizando de paraísos fiscais – inclusive dentro dos Estados Unidos. Os advogados de verdade, inclusive, tentaram proibir o lançamento do filme. Eu não tiro a razão deles, se eu tivesse sido interpretada de uma forma tão ridícula em um filme também ficaria pistola.

Como se esta conclusão não fosse for dummies o suficiente, lá vem de novo a Meryl pra fazer um baita monólogo enquanto se descaracteriza de sua personagem. É praticamente toda uma lição de moral de como sonegar é errado e de como os ricos influenciam políticos para que as leis continuem os beneficiando. Tudo isso é verdade e, se você mora no Brasil, sabe isso melhor do que a própria Meryl. Mas para o tom do filme ficou bem redundante e, vindo da indústria de Hollywood, um tanto hipócrita. Ou vai me dizer que todo mundo ali está com todos os impostos em dia?

O fato é que A Lavanderia se perde na ambição de ser um filme inteligente e politicamente consciente em uma direção decepcionante de Soderbergh e performances dignas de um Framboesa de Ouro. Com um elenco tão caro e um resultado tão pífio, o próprio filme parece ser produto de lavagem de dinheiro.

Nota:

Imagens: Netflix