O jornalismo incansável e responsável de Spotlight

 

Na época da faculdade de Jornalismo recebíamos infindáveis listas de filmes de nossos professores com regras valiosas sobre a profissão. A partir desse ano o oscarizável Spotlight deve encabeçar essas listas para os próximos formandos com a minha torcida de que sensibilize os futuros profissionais.

Diferentemente de obras como A montanha dos sete abutres, que mostra todo o poder manipulador da profissão, ou O custo da coragem, que coloca a vida da repórter em risco em função do trabalho, Spotlight foca menos nos jornalistas e mais na investigação jornalística. Isso é importante não só por deixar de lado a pseudo glamourização que o público muitas vezes atribui à profissão, mas para mostrar a todos os esforços por trás do furo jornalístico que denuncia uma instituição poderosa, como a Igreja Católica.

Aliás, a Igreja Católica não é um exemplo aleatório aqui. Em Spotlight ela é investigada incansavelmente pelos repórteres do Boston Globe, que revelaram todo um esquema de acobertamento de padres acusados de molestarem crianças. Resultado: um ano de pesquisa denunciou pelo menos uma década de abusos dos religiosos apenas na Arquidiocese de Boston. Hoje conhecemos a repercussão global desse problema e sabemos de investigações locais com resultados semelhantes, mas nem por isso o trabalho desta equipe deve ser ignorado.

Além da trama envolvente, o elenco é um dos melhores na corrida do Oscar deste ano (ao lado de A grande aposta). Com nomes como os de Mark Ruffalo, Rachel McAdams, Michael Keaton, Liev Schreiber, John Slaterry e Stanley Tucci, não é de se admirar que o filme levou a melhor no SAG Awards na categoria de Melhor Elenco – Drama.

Mesmo que o prêmio seja muitas vezes associado à categoria máxima do Oscar, é bem improvável que Spotlight saia totalmente consagrado no próximo dia 28. Com seis indicações, incluindo duas de atores coadjuvantes para Rachel McAdams e Mark Ruffalo, a maior probabilidade é uma estatueta de Roteiro Original.
 


 

Por mais que seja um filme de altíssimo nível, é um tanto apático para se tornar realmente memorável nos próximos anos. A não ser nas faculdades de jornalismo, é claro. Em tempos em que qualquer um pode se achar um formador de opinião graças à Internet, é essencial relembrar por que o jornalismo ainda se diferencia dos demais conteúdos cuspidos em redes sociais. Responsabilidade na apuração e o compromisso de prestar um serviço à sociedade ainda são preceitos fundamentais na profissão de jornalista, independentemente da mídia em que a informação será divulgada.

Nota:

Trailer de Spolight

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