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Precisamos mesmo de tantos remakes da Disney?

Não é de hoje que vimos remakes da Disney encherem as salas de cinema. Eles começaram lá em 2010 com a releitura de Tim Burton para Alice no País das Maravilhas e ganhou força com uma sequência matadora em poucos meses: Dumbo, Aladdin e O Rei Leão.

Este último foi responsável por lotar as salas de cinema e causar o maior frenesi que eu me lembre desta era de remakes repletos de CGI. Os números confirmam: O Rei Leão é a segunda maior bilheteria deste ano, atrás apenas do quarto filme dos Vingadores.

Se por um lado o filme é um sucesso de público, o mesmo não pode ser dito da crítica e aqui eu me incluo. Mesmo tentando me isolar de toda a nostalgia de um dos filmes mais queridos da minha infância (algo que admito não ser 100% possível), o resultado da nova versão da história de Simba pode ser classificado, com algum esforço, como satisfatório. Nada mais.

Mesmo com uma técnica assustadoramente bem executada de CGI que faz a animação se parecer muito com leões de verdade (embora chamar o filme de versão “live action” seja pura estupidez), a própria tecnologia pode ter sabotado um pouco da emoção do filme. Para ser justa, reassisti ao Rei Leão lá de 1994 com uma nova visão de crítica e não apenas da criança encantada pelos bichinhos para poder fazer uma comparação mais certeira. E deu pra encontrar onde boa parte do problema se encontra.

Enquanto a animação 2D lá de 1994 dava um caráter mais humano aos bichinhos, com olhos maiores e expressões mais incisivas, o quase-realismo do CGI não deixa que isso aconteça. A preocupação em deixar os bichos parecidos com a realidade limitou as expressões ao que existe na natureza, tirando justamente as características humanas que geram tanta empatia no público.

Nem mesmo a linguagem corporal dos bichos foi muito respeitada. Todo mundo que convive com gatos sabe como eles se portam quando estão animados, confiantes, com medo e tristes. Aparentemente o diretor Jon Favreau não tem esta bagagem, deixando um Simba assustado com orelhas em pé, por exemplo, algo impensável na natureza. A limitação das expressões também foi tamanha que o próprio sincronismo da dublagem ficou prejudicado, limitando os movimentos de boca dos personagens.

Outro problema, que alguns talvez vejam como vantagem, é a reprodução quase idêntica a 1994 dos planos e cortes da maioria das cenas. Talvez o diretor tenha optado por isso até por uma questão de segurança: se deu tão certo no primeiro, daria certo no segundo, não é mesmo? Mas a minha pergunta aqui é: se deu tão certo no primeiro porque precisamos de mais um filme contando a mesma história? Para o novo filme pareceu sem inspiração e sem personalidade.

Afinal, pra que servem os remakes da Disney?

O ciclo sem fim de remakes da Disney segue uma lógica muito parecida com as infinitas continuações de sagas que se recusam a terminar:

1. Anunciam o remake/continuação e o público fica dividido entre os que não querem que mexam no original pra não acabar com as lembranças da infância (amigo, se você tem mais de 20 anos a sua infância acabou faz tempo) e aqueles super empolgados.

2. Saem os primeiros cartazes, teasers e trailers e praticamente todo mundo fica “wooow, tenho que ver”.

3. O filme finalmente sai e na maioria das vezes a nossa reação é apenas “meh, o original/primeiro era melhor”.

Se tantas pessoas saem indiferentes ou insatisfeitas, qual o propósito de continuar a fazer estes remakes? A resposta está lá no começo do texto: segunda maior bilheteria do ano!

Se formos pegar as 10 maiores bilheterias dos EUA de 2019 até aqui (agosto) a gente entende melhor:

  1. Vingadores: Ultimato
  2. O Rei Leão
  3. Capitã Marvel
  4. Toy Story 4
  5. Homem-Aranha: Longe de casa
  6. Aladdin
  7. Nós
  8. John Wick 3: Parabellum
  9. Como treinar seu dragão 3
  10. A vida secreta dos pets 2

Viu como apenas Nós é um filme (aliás, um baita filme) que não é continuação, remake ou não pertence a um universo cinematográfico pré-estabelecido (desculpa aí Capitã Marvel)? Quão triste é isso?

Mas afinal, de quem é a culpa: dos estúdios que empurram essas ruminadas de material pré-existente ou o público que prefere investir no conforto daquilo que ele já conhece, mesmo sabendo que nunca poderá reproduzir a mesma experiência do material original?

Estúdios de cinema são aquela coisa gananciosa que vai estraçalhar qualquer potencial lucrativo em busca do lucro, isso é um fato. Mas quando foi a última vez que você foi ao cinema para ver algo completamente novo? Os estúdios vão aonde as pessoas estão e se as pessoas estão, então pra eles vale mais a pena investir milhões em efeitos especiais de uma história quase sem roteiro do que arriscar num projeto completamente novo, ainda que mais barato.

Isso me lembra outra reflexão que já escrevi aqui: Afinal, filmes de super-herói estão acabando com o cinema?

Para os críticos e parte do público, o novo O Rei Leão pode ter servido como um despertador para questionar a necessidade desta onda de remakes cujo único propósito é fazer dinheiro. Já nos deixa com o pé um pouco atrás nos próximos lançamentos já anunciados pela Disney, como Mulan, Cruela e A Pequena Sereia.

No entanto, no que diz respeito aos cinemas lotados nestes tipos de produção, eu só tenho a certeza de que os remakes e continuações e materiais com base em outros materiais ainda permanecerão por muito tempo.

Imagens: © 2019 Disney Enterprises, Inc. / © Universal Pictures / Marvel Studios