A teoria de tudo e a perfeição britânica



Nesse ano o que mais se fala nas publicações relacionadas a Oscar é da quantidade de cinebiografias e da tal invasão britânica na temporada de premiações. A teoria de tudo se encaixa nas duas situações e, além disso, é um filme lindo, esteticamente falando, bem produzido e com atuações no mínimo marcantes.

Uma das principais injustiças que eu escuto em relação a este filme é que “é uma cinebiografia do Stephen Hawking”. Pra quem assistiu com atenção, o filme é na verdade sobre o relacionamento de Stephen com sua esposa Jane e de tudo o que eles enfrentaram ao longo das décadas de casamento. Claro, há referências ao trabalho dele em diversos momentos, mas o filme é muito mais do que isso e Jane está longe de ser uma mera acompanhante nessa jornada. A maior parte das decisões e a força para que eles chegassem tão longe emana, na maior parte dela. Assim como Johnny e June, que mostrou todos os percalços da relação de Johnny Cash e June Carter, o casamento dos dois está bem longe de ser perfeito, ao contrário do filme.



Se tem uma coisa que me irrita um pouco no cinema britânico é essa coisa redonda demais, ensaiada em demasia e irretocável no produto final. Já comentei isso sobre O jogo da imitação e a mesma coisa aconteceu com A teoria de tudo. Por ser uma história meio conhecida do público, eu esperava um pouco mais de brilho (nada a ver com a fotografia, que tem bastante coisa brilhando). O que torna o filme interessante ao ler a sinopse é justamente esse foco na vida pessoal, que é o lado do cientista que o povo não conhece. Pra uma proposta deste tipo, faltou emoção. O roteiro ficou muito vanilla e previsível.

A verdadeira força do filme de James Marsh vem da atuação espetacular dos protagonistas. Tanto Eddie Redmayne quanto Felicity Jones compensam de forma poderosa o tédio do roteiro. São personagens complexos em uma história delicada e que nos deixaria perdoar qualquer falha de interpretação. Mas os dois não precisam disso. Assim como a produção, direção, edição, trilha sonora e fotografia, eles estão impecáveis na telona e merecem todo o reconhecimento por isso. Aliás, já estamos acionando Kanye West pra invadir o palco do Oscar se o Eddie não levar essa.

Podemos esperar alguns louros técnicos neste domingo e torço muito pela estatueta de Melhor Ator (alô Kanye). Stephen Hawking pode ter revolucionado a física moderna, mas o filme sobre ele não revolucionou o cinema. Ainda assim, é um belíssimo trabalho que, se não fosse a obsessão com a perfeição, seria realmente perfeito.