Faltou a coragem das mulheres de Estrelas além do tempo…

    Taraji P. Henson e Janelle Monae em Estrelas além do tempo


     

    A gente gosta de acreditar que Hollywood está virando um ambiente com mais diversidade e valorizando o trabalho de mulheres. E mulheres negras. Por isso, a nomeação de Estrelas além do tempo às principais categorias das principais premiações do cinema é sim emblemática. Já o filme em si, nem tanto…

    Taraji P. Henson e Janelle Monae em Estrelas além do tempo

    Eu fui disposta a gostar do filme quando fui ao cinema, mas a execução me decepcionou um pouco. Vamos à história: três mulheres negras que trabalhavam na Nasa no início da década de 1960 se tornam pioneiras de diversas formas em plena corrida espacial, apesar do racismo e do machismo institucionalizado da época. Resumindo, olha que p*ta história esse diretor tem na mão!

    A opção de fazer um feel good movie trouxe leveza para um tema muito sério e que, mais do que nunca, precisa ser discutido. Torna o filme acessível às grandes audiências, mas peca ao tratar o assunto sem a seriedade que ele merece. Reduziu o preconceito enfrentado na época por estas mulheres a algumas situações, como ter o banheiro separado e sentar no fundo do ônibus, para dar apenas alguns exemplos. Não estou dizendo que isto não era incômodo, lógico que era, mas faltou mais dedo na ferida aqui. Histórias cruzadas consegue ser melhor neste aspecto.

    Estrelas além do tempo

    Isso se fosse um filme limitado à temática do racismo e do machismo, mas não é só sobre isso. Estrelas além do tempo é sobre as conquistas de três mulheres brilhantes que até então eram pouco conhecidas do grande público. O problema é que, em vez de enaltecer como essa mulherada era destruidora, focaram tanto na repetição de problemas que as conquistas acabaram ficando de lado. Eu queria saber muito mais sobre elas do que o filme se propôs a mostrar.
     


     

    [O parágrafo a seguir pode conter spoilers leves]

    Aliás, eu fui atrás de alguma coisa e achei uma entrevista da verdadeira Katherine Johnson em que ela diz justamente que não se sentia em um ambiente segregado na Nasa. O lance do banheiro longe, repetido à exaustão no filme, nem era verdade. Segundo a própria Katherine, ninguém tinha tempo pra isso, pois o objetivo em atingir o resultado era muito mais importante. O que ela confirmou foi o lance de não poder participar das reuniões de briefing por ser mulher, mas que ela rapidamente contornou na época. Ah! E teve sim o pedido de confirmação dos cálculos pelo astronauta. Olha como essa mulher era foda!

    [Se você pulou o parágrafo, pode voltar a ler]

    Por falar nas mulheres da Nasa, vamos falar das mulheres do filme, que são o verdadeiro ponto forte aqui: as atuações de Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monae conseguem contornar o roteiro fraco e fazer justiça às personagens interpretadas por elas. Elas dão leveza e serenidade, mas também muita força e determinação nos momentos em que o filme pede. Aliás, outra coisa que senti falta no filme foi mais espaço para as histórias da Dorothy e da Mary, que são tão interessantes quanto a da Katherine.

    Octavia Spencer em Estrelas além do tempo

    Sobre os outros coadjuvantes, Kevin Costner está bem, mas o personagem ajuda bastante. A Kirsten Dunst está passável, mas também acho que o objetivo da personagem dela era este: o de não gerar uma empatia mínima. Jim Parsons decepcionou bastante. Ele é praticamente o Sheldon, só que tendo que aprender que ele não era o cara mais inteligente na sala.

    A direção do Theodore Melfi caiu no mesmo erro de seu filme anterior, St. Vincent: apelar para o melodrama e para a resolução fácil e óbvia de situações. Vou nem comentar sobre o Kevin Costner dizendo que todo mundo urina da mesma cor, porque né? Desnecessário. A trilha do Hans Zimmer com o Pharrell e com o Benjamin Wallfish tem seus momentos, principalmente em cenas mais rapidinhas, mas acaba deixando algumas cenas MUITO piegas. Falta só uma plaquinha dizendo “ó, essa hora aqui é triste, viu? Pode chorar aí”. Subestima a inteligência do espectador.

    De forma geral, ainda é um bom filme e que merece ser assistido (principalmente pela força do elenco e pertinência do tema). O que pega aqui é que a história original é muito mais interessante e as questões sociais foram tratadas meio que pisando em ovos. Acho ótimo que as histórias da Katherine, da Dorothy e da Mary ganhem uma repercussão como esta, mas o filme ainda não faz justiça a elas ou à história. Ficou vanilla demais, mas pelo menos é um começo e reacende um debate que nunca deve morrer.

    Estrelas além do tempo

    Nota:

    Trailer de Estrelas além do tempo

    Veja também: Críticas dos indicados a Melhor Filme no Oscar 2017
     


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