Garota exemplar e o retorno do velho Fincher

    O meu interesse por Gone Girl veio numa época em que a menor das minhas preocupações era o que estava em cartaz: estava viajando e, entre uma fuçada e outra no Facebook, vi pipocarem artigos sobre este filme com o Ben Affleck (algo que ultimamente tem se tornado sinônimo de coisa boa) na mídia internacional: The Guardian, TIME, Entertainment Weekly, Hollywood Reporter – todos discutindo absurdamente a adaptação do livro de Gilian Flynn, levada às telonas por David Fincher (que tem me decepcionado um pouquinho nos últimos anos).

    Vista pela última vez na livraria. Quem nunca?

    Vista pela última vez na livraria. Quem nunca?

    Voltei com o objetivo de não perder esse filme no cinema e ler o mínimo de spoilers, justamente por se tratar de um thriller. Levou mais um mês até ele estrear por aqui e não perdi tempo. Mesmo após ter matado a principal charada com o trailer (era uma suspeita que só confirmei com o filme, óbvio), a trama não deixou de me surpreender. Fazia tanto tempo que um filme não provocava tantas sensações em mim no cinema. God! Como eu sentia falta disso!

    Pra quem estava em Marte ou muito “preocupado” com as eleições presidenciais: a trama se passa em torno do desaparecimento de Amy Dunne (Rosamund Pike), cuja vida serviu de inspiração para uma série de livros intitulada Amazing Amy e a tornou uma espécie de queridinha da América. Ela é esposa de Nick Dunne (Ben Affleck), jornalista desempregado pela crise que abriu um bar na sua cidadezinha natal. Até aí ok, é um suspense policial em que o marido inevitavelmente vai acabar se tornando o principal suspeito.

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    Porque né? Quem não ficaria feliz com o sumiço da esposa?

    Mas a beleza está no que vem a partir daí. Conforme vamos conhecendo a história do relacionamento dos dois, percebemos que o conto de fadas deles leva tanto à hipótese de sequestro/homicídio por parte do marido, por parte de algum ex, ou, quem sabe, um plano para que ela fuja dele e consiga o seu próprio holofote. Mesmo tendo matado esse mistério antes do filme, não vou contar aqui porque duvido que todo mundo tenha assistido (se você é um dos que não viu, corre que ainda tá em cartaz!). E sim, ainda sobraram muitas outras pontas no decorrer do filme. O mistério do sumiço da Amy já é desvendado na metade da trama e, por incrível que pareça, nós ainda temos interesse em saber o que vai acontecer depois.

    Talvez esse clímax antecipado tenha causado estranheza em alguns espectadores, mas eu achei uma manobra ousada que só deixou o thriller ainda mais excitante. Além disso, ainda tem todo aquele circo da mídia que eu, jornalista por formação e experiência, adoro ver escancarado na ficção (porque né? No final das contas não é tão fictício assim). Com certeza vai figurar nas listas de recomendações de filmes de professores universitários aos seus alunos, ao lado de clássicos como Mera Coincidência, O quatro poder e A montanha dos sete abutres (entre muuuuitos outros).

    Quer mais um motivo? Tem Neil Patrick Harris DRAMÁTICO!

    Quer mais um motivo? Tem Neil Patrick Harris DRAMÁTICO!

    Ainda tem lá suas dúvidas? Pensa numa mistura de Instinto Selvagem, A vida de David Gale e o David Fincher de Se7en e Clube da Luta. Vale o ingresso, o estacionamento e até aquela pipoca cheia de sal.

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