A história que a maioria das pessoas já conhece: uma falha técnica faz um piloto de avião pousar no Rio Hudson. Apesar de arriscada, a manobra garante a vida de todos a bordo. A história que talvez muita gente não conheça: o piloto responsável pelo pouso, Chesley Sullenberger, enfrenta um processo que questiona a escolha dele em pousar no rio em vez de se dirigir a um dos aeroportos próximos. Esta investigação é o tema de Sully, filme dirigido pelo veterano Clint Eastwood e protagonizado pelo consagrado Tom Hanks, no papel do Capitão Sully.
Surpreendentemente, esta é a primeira colaboração entre Eastwood e Hanks. Sério, como que isso não aconteceu antes? O Eastwood adora dirigir dramas baseados em fatos reais que enalteçam o orgulho norte americano. O Tom Hanks costuma protagonizar filmes exatamente com esse contexto. Demorou, hein?
Voltando ao filme em questão, tem tudo o que podemos esperar de uma produção by Clint Eastwood: uma história real, um ato de heroísmo e o reforço de que os norte americanos são realmente demais. A atuação do Tom Hanks também é exatamente o que a gente espera dele: você até se esquece que é um ator em cena e não o personagem real. O estilo do personagem também é bem parecido com muita coisa que o Tom Hanks tem feito: um herói humildão, mas que sabe o que está fazendo.
É um filme bonitinho e bem feito (ótimos efeitos, sério), mas que ainda assim parece vazio. Um dos problemas é a proximidade com os eventos: o pouso forçado no Hudson aconteceu em 2009, muita gente ainda se lembra do desfecho da história. A solução seria transformar em um drama de tribunal, certo? Talvez.
Os questionamentos feitos sobre o pouso de Sully, tentando achar cabelo em ovo numa manobra em que ninguém morreu ou ficou gravemente ferido, parecem desnecessários para o espectador. O que torna o filme em si meio desnecessário. A sensação que dá é que tentaram fazer algo aos moldes de O voo, de Robert Zemeckis, em que o piloto literalmente gira o avião de cabeça para baixo a fim de evitar um impacto mais desastroso. A diferença é que O voo é uma obra fictícia, com um protagonista muito mais dúbio e questionamentos morais muito mais profundos do que Sully. A gente sabe que o personagem do Tom Hanks é gente boa, não usa drogas e fez o melhor que pode. No caso do capitão interpretado por Denzel Washington a “imoralidade” se torna fundamental para deixar a trama interessante.
Para dar um pouco mais de “sustância” à história, o roteiro insere algumas conversas de telefone com a esposa de Sully, interpretada por uma subaproveitada Laura Linney. Esses diálogos poderiam ser essenciais para conhecermos melhor o personagem, mas nem isso acontece. Eles dão pistas de que a família dele tinha alguns problemas financeiros mas nem isso é desenvolvido direito. Não acrescenta e deixa de aproveitar o potencial de uma excelente atriz.
Uma das vantagens do filme é a sua duração: pouco mais de 1h30. Ainda assim, conseguiram repetir a sequência do pouso umas três vezes neste período. De ângulos diferentes, ok. Mas ainda assim ficou repetitivo. Quanto ao julgamento, o desfecho ficou previsível e fácil demais de resolver. Por que passamos 1h30 assistindo toda essa discussão se era só jogar o mágico “fator humano” que todo mundo mudaria de ideia e reconheceria todo o heroísmo do Sully?
Resumindo, é um filme redondinho, porém, esquecível. Pelo distanciamento dos fatos teria sido bem mais interessante fazer um documentário a respeito. Afinal, tá todo mundo aí pra ajudar a contar a história, não é mesmo? O pouso do Capitão Sully no Rio Hudson não será esquecido. O filme, muito provavelmente.
Nota:
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