A Criada é a lembrança de por que o cinema é a 7ª arte

    A Criada

    Em um cenário hollywoodiano que insiste em apostar em filmes de super-heróis com muita ação e pouca história, remakes desnecessários e continuações forçadas, fugir das latinhas norte-americanas e recorrer a um filme de língua estranha pode ajudar a recompor a fé no cinema e relembrar do porquê ele ser conhecido por Sétima Arte. Para quem quiser se arriscar na terra de línguas incompreensíveis, A Criada (The Handmaiden) é, sem dúvida, a melhor pedida dos últimos anos.

    A Criada

    A história pode até não parecer tão original assim se formos só pela sinopse: uma mulher é contratada como criada de uma herdeira, dominada pelo seu tio. Mas na verdade esta mulher é uma ladra e está envolvida em um esquema planejado por um cara que se faz passar por um conde japonês. O plano na verdade é fazer com que a herdeira se apaixonasse por ele, os dois fugissem juntos pra casar, ele a internasse num manicômio e ficasse com a grana.

    A Criada

    O enredo, nessa descrição mais simplista, já lembra algo da era de ouro do cinema, o que nunca é ruim. Mas a execução… Ah! A execução, meu amigo, é o que torna tudo mais interessante. Conduzido pelo aclamado Chan-wook Park (Oldboy, Mister Vingança e afins), A Criada é uma experiência sensorial de início ao fim, combinando uma impecável direção de arte e fotografia a uma trilha sonora pertinente e a um roteiro que se mostra muito mais cheio de camadas do que se pensava inicialmente.

    Não vou dar spoiler porque este filme deve ser assistido com o mínimo de informações possíveis mas posso adiantar algumas coisinhas. Uma delas é que a narrativa é feita em três atos, cada uma do ponto de vista de cada personagem. Em cada um deles o espectador conhece um pouco mais do que realmente tá pegando ali.

    A Criada

    Roteiro e fotografia são os pontos altos de A Criada

    Prepare-se para ver uma reviravolta atrás da outra e desconstruir a ideia que você tinha da história que estava sendo contada. Um elemento muito bacana que o Park usa é filmar uma mesma cena de tomadas diferentes, cada uma com um significado diferente e um novo rumo para a compreensão da história. No final, é tudo um grande “sabe de nada, inocente”. Bem na nossa cara.

    Além da edição inteligente, a fotografia e direção de arte colaboram para um clima meio erótico/sombrio/sofisticado, dependendo do objetivo do filme naquele momento. Cada frame dá vontade de emoldurar. Como falei em clima erótico: rolam umas sacanagenzinhas sim. Mas, diferentemente da maioria das produções, aqui as cenas mais ousadas atendem ao propósito da história e servem até como um recurso meio irônico. Faz sentido pra trama, não é só mais um recurso pra aumentar bilheteria. Aliás, galera do 50 tons podia aprender alguma coisa com este filme.

    A Criada

    Não se deixe assustar pelas 2h30 de duração e pela lentidão dos primeiros 30 minutos. A Criada é um filme para ser assistido do início ao fim, numa sentada só e, preferencialmente, bem acordado. Diferentemente da maioria dos filmes, tem a duração necessária para que a história se desenrole. Não é longo demais e nada é revelado antes do necessário. Uma verdadeira obra-prima, daquelas que a gente torce pra se repetirem mais vezes na telona.

    A Criada

    Nota:

    Trailer de A Criada (The Handmaiden)

    Veja também: Crítica de Invasão Zumbi

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