Anon | Black Mirror piorado

    Anon

     

    Se você já assistiu alguns títulos sobre ficção-científica, armazenamento de informações e o consequente acesso a essas informações por parte do governo, não há muito que Anon possa acrescentar ao seu acervo cinematográfico. A produção da Netflix estrelada por Clive Owen e Amanda Seyfried parece um plágio mal-acabado de algum episódio de Black Mirror, mas não dos bons.

    No futuro, em alguma metrópole da América do Norte, o armazenamento de todas as ações que as pessoas executam tornam praticamente impossível alguém sair impune de algum crime, o que facilita bastante a vida do investigador Sal Friedland (Clive Owen). Porém, ele se vê diante de um mistério de verdade quando uma série de assassinatos está conectada ao fato de que as vítimas, logo antes de serem executadas, têm suas mentes hackeadas e enxergam do ponto de vista do assassino, causando confusão (lógico) e tornando impossível a identificação do assassino.

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    Além de tudo ser gravado, é possível enxergar as informações das pessoas em um displayzinho ao lado delas em tempo real, com dados como nome e profissão. Quando Friedland passa por uma misteriosa mulher (Amanda Seyfried) sem informação alguma, ela se torna suspeita de sua investigação.

    A tática dele é se fazer de isca, contratar os serviços dela (apagar memórias, geralmente em casos de infidelidade conjugal) e descobrir se ela é a pessoa responsável pelos assassinatos. Coincidentemente, os clientes dela também são assassinados. Não demora muito pra que Friedland se envolva um pouco mais do que deveria com ela e a coisa comece a ficar feia. Afinal, se ela é uma hacker super inteligente também não demora muito pra ela descobrir o disfarce dele.

     


     

    Tudo no filme é superficial: desde a suspeita de que aquela garota é criminosa, até o plano de se fingir de cliente, o envolvimento dos dois e o “plot twist” do final. A suspeita de Friedman é rasa, não há investigação até ele ter um primeiro suspeito, bem como as motivações dos demais personagens, incluindo o assassino. O próprio background do protagonista não poderia ser mais clichê: um policial arrasado pela morte de seu filho, um casamento arruinado, maus hábitos e aquela sensação de que ele não têm nada a perder. Sério, mais estereotipado impossível.

    O ritmo do filme consegue ser arruinado de diversas formas: tudo acontece muito rapidamente, tornando-o superficial; há repetitivas inserções digitais sobre acessos a proxys que quebram qualquer suspense que você poderia ter com a investigação; como boa parte das sequências de ação sofrem interferência da manipulação dos hackers você não tem noção do real senso de consequência do que você está vendo, então deixa de se importar; ainda assim, o filme parece ter bem mais do que a 1h40 de duração.

    Fora este problema há um apelo desgraçado para cenas vazias de sexo. Inclua aqui sexo lésbico, o cara de meia-idade com uma mulher em seus 20 e poucos (inclusive do ponto de vista dele, pornô total) e peitinhos desnecessários. Gente, eu não sou nem um pouco puritana e não tenho nada contra cenas de sexo, mas assim como tudo em um filme elas precisam fazer sentido e contribuir com alguma coisa. Não é o que acontece em Anon: parece ter sido inserido só pra conseguir a simpatia do público masculino e hetero. É vazio, é gratuito e parece desespero mesmo.

    Em relação às atuações, é tudo uma grande pena, porque estamos falando de dois protagonistas que são sim bons atores e conseguem entregar papéis melhores. Amanda Seyfried não tem muito o que fazer com a sua personagem, ela apenas a executa. Clive Owen é provavelmente a maior decepção: o que deveria ser a apatia daquele policial clichê que não tem nada a perder dá lugar a um ator que parece genuinamente entediado com o que está fazendo em cena. Provavelmente até mais entediado do que você que está assistindo.

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    Pra não dizer que não há nada de bom no filme ele tem sim seus pontos positivos: a fotografia. Os enquadramentos e jogos de luz, principalmente em ambientes fechados, utilizam muito bem a lei dos terços e criam uma estética bem elegante. Já a fotografia externa aposta em um cinza quase monocromático, dando aquela sensação de que vai chover ou quase chover. O figurino e maquiagem são apenas ok. Podiam ter comprado uma peruca melhor pra Amanda.

    É uma pena que Anon tenha dado tão errado, principalmente vindo da mente do roteirista Andrew Niccol, que também dirigiu o filme. Pra quem não está muito familiarizado com o nome, ele também escreveu os ótimos O Show de Truman e Senhor das Armas. Embora também tenha alguns deslizes, como O preço do amanhã.

    Se tivesse sido lançado há uns 10 anos o filme provavelmente chamaria um pouco mais a atenção. Mas hoje, do jeito que foi concebido e executado, apenas parece um amontoado de coisas que você já viu antes, só que pior.

    Nota:

     

    Trailer de Anon

    Imagens: © 2018 – Netflix

     


     

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