Confira a crítica de Bela Vingança, filme indicado ao Oscar 2021:
Sobre o que é a história: Nina (Carey Mulligan) é uma mulher que está chegando à casa dos 30 anos e que carrega o trauma de ter perdido sua melhor amiga. Ela deixou a faculdade de Medicina para se vingar de homens predadores que abusam de mulheres – principalmente daquelas que estão quase inconscientes por causa da bebida. Tal vendeta tem relação com as circunstâncias que levaram à morte de sua amiga. Ao encontrar um antigo colega, ela talvez tenha a chance de concluir sua vingança.
Considero Bela Vingança uma espécie de azarão nesta temporada do Oscar porque é aquele filme que você assiste, mas que simplesmente não tem a cara da premiação. Não é independente demais para chamar a atenção, mas também não se encaixa nas narrativas normalmente premiadas. Mas isso não significa que o filme seja menos importante, muito pelo contrário, depois de anos de esquecimento do #MeToo, o filme vem como uma espécie de vingança para as todas as mulheres que já sofreram algum tipo de abuso ou assédio.
Apesar do roteiro ter seus altos e baixos, é uma história extremamente necessária por falar tão cirurgicamente (trocadilho intencional) sobre cultura do estupro. Sobre como não são apenas os abusadores de fato que perpetuam isso, mas também aqueles que são coniventes com o abuso e que acabam culpando a vítima. Os baixos, são algumas pontas que o filme quis abrir, mas que no final das contas não amarrou.
Carey Mulligan é a estrela do filme. Ela entrega uma Nina que alterna bastante entre a doçura que se espera de sua personagem e a frieza de alguém que não tem nada a perder. Não é aquele tipo de atuação chamativa e irresistível ao Oscar, como vários exemplos de Meryl Streep ou o papel pelo qual Viola Davis concorre este ano. O brilhantismo da atuação dela está nos detalhes, e ao mesmo tempo que isso é genial, talvez faça com que algumas pessoas pensem que seu papel não é necessariamente difícil.
O filme tem várias participações especiais que os aficionados por cinema terão o prazer de se deparar: Adam Brody, Jennifer Coolidge, Laverne Cox, Alison Brie, Christopher Mintz-Plasse, Connie Britton, Molly Shannon e Alfred Molina. Uma curiosidade: ele é escrito e dirigido por Emerald Fennell, que interpreta Camila Parker na série da Netflix The Crown. Aliás, é o tipo de história que provavelmente só poderia ser contada desta forma através de uma mulher. Mais pontos para o filme.
Bela Vingança está indicado a cinco Oscars nas seguintes categorias:
Melhor Filme
Melhor Atriz – Carey Mulligan
Melhor Direção – Emerald Fennell
Melhor Roteiro Original
Melhor Edição
Chances reais: como falei no título, Bela Vingança é um azarão, um filme que não estamos acostumados a ver ali, ou seja, ao mesmo tempo que tem baixas chances na maioria das categorias, pode acabar surpreendendo. As chances menos prováveis são as de Melhor Filme e Melhor Atriz – apesar do excelente trabalho de Mulligan, há pelo menos três atrizes mais próximas da estatueta (Viola Davis, Andra Day e Frances McDormand. Edição deveria ir para Meu Pai, então não acredito em uma vitória aqui também. O que considero que tem melhores chances é na categoria de Roteiro Original, inclusive com chances de desbancar o badalado Aaron Sorkin e seu Os 7 de Chicago, principalmente após as vitórias de Emerald Fennell no Bafta e no prêmio do sindicato dos roteiristas. Além disso, seria uma forma de honrar a cineasta sem precisar entregar a ela o Oscar de Melhor Direção (coisa que a Academia faz bastante).
Nota:
Imagens: Focus Features