O que aconteceria se o Alex Supertramp de Na natureza selvagem não tivesse morrido, mas sim, casado e tido seis filhos? É mais ou menos esse o cenário que encontramos no início de Capitão Fantástico.
Ben (Viggo Mortensen) e a esposa decidiram ter um estilo de vida livre do sistema e criam os seus filhos em meio à floresta, com direito a uma educação repleta de referências de filósofos, conhecimento sobre história e política e um treinamento de sobrevivência que deixaria muitos militares parecendo crianças mimadas. Circunstâncias familiares bem fortes fazem com que Ben leve os filhos “de volta à civilização”.
É aí que está a graça do negócio. Criados praticamente sem contato com cidades, outras pessoas e até com a própria família, os filhos têm muita dificuldade em compreender e até mesmo interagir com outras pessoas. Eles podem até dar um banho numa discussão sobre direitos civis, por exemplo, mas falta a tal da “faculdade da vida”.
O filme é uma comédia, mas cuidadosamente elaborada para ser levada a sério. Algumas situações fazem com que o espectador realmente pare para refletir sobre quem está certo e quem está errado. A sociedade nos empurra para a burrice? Tanto conhecimento teórico realmente nos ajuda tanto assim? E, principalmente, se o protagonista prezava uma vida de liberdade por que ele mantinha os filhos em um regime praticamente ditatorial? O roteiro consegue levantar todas estas questões sem tomar partido. Só falta mesmo a mensagem “para refletir” ao final de cada dilema.
A atuação do Viggo Mortensen está convincente e com força para carregar praticamente o filme inteiro. O antagonismo do Frank Langella como sogro de Ben consegue ser implacável e empático ao mesmo tempo. Apesar de, num primeiro momento, parecer o cara mau da história, a gente meio que consegue entender o lado dele.
É uma pegada legal de filme independente que até lembra um pouco Pequena Miss Sunshine, com a viagem em família, os contratempos e o humor negro de algumas situações. Viggo Mortensen está indicado a Melhor Ator, na única menção no Oscar deste ano. Provavelmente não leva, mas vale a lembrança.
O filme não é tão forte para ser indicado em alguma outra categoria. Poderia citar o roteiro, que realmente dá um toque de originalidade que está em falta em Hollywood. O problema é que quiseram amarrar demais e o final ficou um pouco desnecessário. Poderia ter acabado uns 15 minutos antes. É um filme leve, divertido e que pode gerar algumas discussões legais (mas sem textão no Facebook, por favor).
Nota:
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