22 de Julho | Retrato cuidadoso do pior atentado da Noruega

    22 de julho

     

    O atentado terrorista que matou 77 pessoas na Noruega em 2011 ganha uma versão cinematográfica em 22 de Julho, dirigido por Paul Greengrass, que já tem um histórico em retratar histórias de tragédias reais, como Voo United 93 e Capitão Philips. Desta vez, ele não se limita aos eventos do crime em si, mas estende a abordagem ao que ocorre após acontecimentos tão terríveis.

    O filme entrega seu vilão logo de cara: Anders Behring Breivik (Anders Danielsen Lie) está com uma máscara de gás preparando uma provável bomba que daria início aos atentados de 22 de julho. Paralelamente, um grupo de adolescentes confraterniza em um acampamento do partido dos trabalhadores do país. O plano de Breivik é colocado em ação ao explodir uma van próxima ao prédio do Primeiro-Ministro Jens Stoltenberg (Ola G. Furuseth) e, com o caos instaurado, seguir vestido de policial para a ilha de Utoya, onde estão os adolescentes.

    22 de julho

    De forma rápida e fria, Greengrass retrata o ataque de Breivik aos adolescentes. Tudo ocorre rápido e sem excesso de dramatização ou de violência. Assim como os jovens naquela ilha, nem o espectador entende muito bem o que está acontecendo e qual será o desfecho do ataque (sim, nós sabemos que ele será pego, mas não há como prever o quanto o filme vai investir no ataque em si).

    Com um filme de 2h23 de duração que já entrega o seu ápice nos primeiros 30 minutos é de se perguntar que rumo a trama irá tomar. Diferentemente dos filmes citados anteriormente, 22 de Julho dedica a maior parte do seu tempo ao que ocorre após a tragédia com o terrorista, o julgamento e, principalmente, com o trauma que permanece com as vítimas.

     


     

    Boa parte do filme foca em Viljar Hanssen (Jonas Strand Gravli), um dos jovens que estava na ilha e recebeu tiros na cabeça. Resgatado, ele ficou cego de um olho e passou por uma delicada cirurgia para remover fragmentos da bala que o atingiu – que não puderam ser retirados completamente, deixando uma ameaça constante e permanente a sua vida caso os fragmentos se movam em seu cérebro. Além da própria recuperação (que envolveu reaprender a usar o seu corpo), ele lida com o luto pelos amigos que foram assassinados e com o dilema de testemunhar ou não no julgamento de Breivik. Neste processo, ele conta com o apoio da jovem Lara Rachid (Seda Witt), uma imigrante que sobreviveu, mas perdeu sua irmã no atentado.

    O fato de ela ser imigrante é relevante pois uma das motivações do assassino é querer acabar com a imigração no país. Embora o discurso dele encontre amparo em muitos grupos extremistas, suas ações foram isoladas e condenadas até por aqueles que pensam de forma semelhante a ele.

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    Uma característica um tanto frustrante, mas compreensível, é a falta de aprofundamento em Breivik. Frustrante porque o personagem parece apenas um monstro genérico, mas compreensível pois não dá a ele (que ainda está vivo e preso) o palanque para seus “ideais”. O filme, inclusive, mostra como suas ações são repudiadas até por quem supostamente concorda com suas ideias.

    O aspecto mais interessante sobre Breivik é, na verdade, o seu advogado de defesa, Geir Lippestad (Jon Oigarden). Escolhido pelo próprio assassino por causa de uma defesa a um neonazista alguns anos atrás, Lippestad não concorda nem de longe com o pensamento do réu, mas se vê obrigado a pegar o caso e trabalhar na defesa de Breivik.

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    As camadas quanto ao dilema do advogado são a parte mais interessante do segundo ato do filme, mas infelizmente elas não recebem a devida atenção (talvez para eclipsar o próprio Breivik na história), que fica mais com o jovem Viljar e sua batalha para recuperar a própria vida. Isso faz com que o filme perca o fôlego enquanto é encaminhado para seu final: o julgamento de Breivik.

    Filmado em forma quase documental, sem tripés e com uma fotografia quase sem cor, 22 de Julho pode ser frio, mas consegue te trazer para o centro da ação, tanto nos ataques como nas vidas afetadas pelo ataque. Paul Greengrass é bem cuidadoso e comedido no drama sem torná-lo caricato e um tanto distante dos espalhafatosos discursos nacionalistas de produções de Hollywood neste tipo de filme. Ele não se esforça para traçar um paralelo com o cenário de intolerância que se vê no mundo hoje – e nem precisa, a mensagem é clara: o atentado afeta tanto as vidas de imigrantes como dos nativos.

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    O diretor acertou em escolher um elenco norueguês, mas a escolha do idioma inglês ficou um tanto estranha. Não acho que o filme perde qualquer tipo de mérito só por causa disso, mas que é esquisito, é.

    22 de Julho não se propõe a dar qualquer tipo de lição de moral ou mensagem de superação pessoal. O filme se resume a mostrar o impacto que o atentado teve nas vidas de diferentes pessoas e é basicamente isso. Pode parecer frio, mas no contexto atual é um lembrete da ameaça que algumas ideias têm sobre as vidas até de quem supostamente se sente seguro.

    Nota de 22 de Julho:

    Imagens: Netflix

    Veja também: Dramas para ver na Netflix


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