Bird Box | Filme de suspense raso e apressado na Netflix

    Bird Box

     

    A premissa de Bird Box, filme adaptado do suspense de Josh Malerman que chegou à Netflix, pode até parecer com Um lugar silencioso às avessas: em vez de não poder fazer barulho, o lance aqui é não enxergar, senão você morre! Mas a comparação para por aí, já que este filme não consegue chegar nem perto da tensão criada por John Krasinski.

    Em Bird Box a nossa heroína é Malorie (Sandra Bullock), que abre o filme com um monólogo duro com claras orientações a duas crianças sobre a importância de não tirar as vendas em nenhum momento da viagem que eles estão prestes a fazer pelo rio. O motivo para esta vida às cegas será apresentado em seguida com uma narrativa que vai e volta entre os dias em que tudo começou e a tal jornada pelo rio.

    Bird Box

    Há cinco anos uma Malorie grávida (e nem um pouco empolgada com isso) vai em uma consulta de rotina com sua irmã Jessica (Sarah Paulson). Elas tinham visto alguma coisa no noticiário sobre pessoas se matando sem motivo aparente, mas ainda era algo distante. Em questão de horas, isso muda com um verdadeiro caos instalado pela cidade, com pessoas ou se matando ou desesperadas pelo medo. O motivo não é muito claro, mas sabe-se que é algo que as pessoas veem que as leva a cometer suicídio. Enquanto Jessica é uma das vítimas, Malorie encontra abrigo em uma casa com várias pessoas desconhecidas que terão que viver confinadas. É tipos um Big Brother do apocalipse que ninguém ganha uma bolada no final.

    Como essas pessoas se reuniram ali não fica muito claro no filme, assim como as personalidades de cada um são levemente pinceladas e você logo se lembra dos filmes de terror adolescente, que só juntam um grande grupo de pessoas para que cada uma morresse gradativamente, aumentando o terror para os remanescentes. O problema é que aqui os personagens são tão subdesenvolvidos que você nem se importa direito com quem morre e quem vive.

     


     

    Com uma narrativa que se divide entre o momento do caos e a viagem de barco (que ocorre cinco anos depois), não há uma ideia muito clara do mundo pós-apocalíptico e tampouco da origem das criaturas. No livro esta explicação também nunca vem, mas o filme meio que se esforça pra dar um significado aos eventos suicidas, ora com pessoas verbalizando o que veem, ora com Malorie ouvindo vozes a chamando (o que não faz sentido algum, já que o segredo aqui deveria ser apenas não ver algo, não tem nada a vez com ouvidos).

    Esta falta de explicação ou ausência de monstros não costuma ser problema para filmes que sabem trabalhar isso. Exemplos disso podem ser observados em Os pássaros, O nevoeiro e até mesmo em Um lugar silencioso. A diferença é que estes filmes conseguem trabalhar elementos tão enervantes quanto o “monstro” em si, como a paranoia entre outras pessoas, a desconfiança sobre a verdadeira existência do tal monstro e até mesmo um claro guia de sobrevivência. Em Bird Box, por exemplo, nem a personagem de Bullock parece seguir as próprias regras, tirando as vendas em espaços internos desconhecidos. Fica arbitrário.

    Bird Box

     

    Diferenças do livro de Bird Box

     Há uma série de “traições” à obra original no roteiro de Eric Heisserer. Há detalhes que não chegam a incomodar o andamento da história (como o fato da casa ser na verdade de Greg e não de Douglas), mas a mais grave é não conseguir dar à história o tempo que ela precisa para envolver o público e dar a verdadeira noção de apocalipse. E olha que o filme passa da marca de 2h!

    Não estou nem me referindo à duração do longa, mas sim à passagem de tempo que fica apressada demais durante o confinamento na casa. O espectador só sabe que este é um problema que veio para ficar por causa da passagem dos cinco anos (que no livro são três). Não há um acompanhamento dos obstáculos enfrentados pelos personagens. A própria “epidemia” de suicídios leva mais tempo pra ocorrer e o desconhecimento das causas leva a teorias bem interessantes do que estaria por trás de tudo isso, deixando o público bem mais envolvido.

    Bird Box

    No livro a parte do suspense também funciona melhor porque não se sabe o que está do lado de fora quando os personagens usam as vendas. Entendo que seria um desafio para o filme, mas há formas de se aproveitar deste suspense sim. Poderiam trocar os planos abertos e as tomadas filmadas com drones por ângulos mais fechados nas personagens, por exemplo. Assim o suspense quanto ao que está lá fora não existe, o que levou o roteiro a apelar para a simples fórmula de “vamos derrubar alguém deste barco pra dar mais emoção”.

    Com uma história apressada e personagens sem desenvolvimento ou camadas, Bird Box se limita a ser um filme de monstro sem monstro, tentando projetar um terror sem aterrorizar o seu público. Se a regra aqui é não ver, eu preferia não ter visto este filme.

    Nota:

    Imagens: Netflix


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