First they killed my father | A guerra que poucos conhecem

    Angelina Jolie em first they killed my father


    Mostrar os horrores da guerra sob o ponto de vista de uma criança é o objetivo de Angelina Jolie em seu novo filme First they killed my father: A daughter of Cambodia remembers (que pode ser traduzido para Primeiro mataram o meu pai: Uma filha do Camboja recorda). A obra é uma adaptação do livro da ativista dos direitos humanos Loung Ung, em que ela conta sua própria experiência durante o regime totalitário do Khmer Rouge no Camboja, que dizimou 25% da população do país nos anos 1970.

    O filme dá um mínimo de contextualização no início para que as pessoas tenham alguma compreensão sobre o que levou à ascensão do Khmer Rouge no país por meio de noticiários da época sobre a Guerra do Vietnã. Angelina não alivia a culpa dos EUA no episódio, que acabou bombardeando o Camboja, um país neutro no conflito.

    Cena de First they killed my father

    A partir daí, acompanhamos a história da própria Loung Ung, que, com sua família, foi forçada a se despir de qualquer individualidade e viver sob o domínio do partido comunista Khmer Rouge. Seu pai era um policial do antigo governo, apoiado pelos Estados Unidos, e fez de tudo para encobrir o seu passado porque isso significaria morte certa. Em vez disso, eles foram enviados para acampamentos de trabalho rural em que todos se vestem de forma igual, devem trabalhar intensamente e vivem com fome o tempo inteiro. Dá para perceber que a intenção aqui era muito mais a dominação e humilhação das pessoas do que o trabalho em si. Qualquer semelhança com campos de concentração não podem ser mera coincidência.

    Por se tratar de uma história contada do ponto de vista de uma criança, o filme se preocupa muito mais em mostrar do que contar os fatos. Há pouquíssimos diálogos e um testemunho silencioso das atrocidades às quais estas pessoas eram submetidas. O fluxo narrativo é um pouco problemático na primeira metade pelo ritmo lento e algumas repetições dos recursos para chocar ou emocionar o público. Não há muita noção de passagem de tempo, parece que tudo aquilo aconteceu em questão de meses, embora tenham sido anos. Mas acredito que isso tenha sido proposital, afinal, na situação em que a protagonista se encontra provavelmente a noção de tempo acabava se perdendo em todo o horror.

    Cena de First they killed my father

    Na segunda metade o roteiro melhora consideravelmente, reservando boa parte da ação para o final, como a maioria dos filmes. Há uma cena com minas terrestres que é sensacional, mostrando o entendimento da personagem sobre as consequências do que as crianças aprendiam nos acampamentos. É de tirar o fôlego.

    Aliás, se tem algo que foi lindamente executado no filme é a fotografia. As tomadas são essenciais para traduzir o clima da história: ora fechando nas impressões da nossa protagonista, ora com tomadas aéreas belíssimas, que não apenas dão a dimensão de pessoas afetadas pelo regime mas ao provocar uma associação com insetos. Se você olhar bem, em muitos casos parece que estamos olhando em um formigueiro. É assustador.

    Cena de First they killed my father

    Muita gente já sabe que a Angelina tem uma relação bem especial com o Camboja desde quando ela estava filmando o primeiro Tomb Raider, o que a levou a adotar o seu primeiro filho, Maddox, que também foi produtor executivo em First they killed my father. Além de levantar a questão deste episódio trágico na história do país, ela tomou o cuidado de transportar o espectador ao Camboja, com elenco de pessoas locais, diálogos em Khmer (o idioma do Camboja) e uma filmagem quase documental.

    First they killed my father é uma produção com escolhas corajosas, mas que consegue contar com sensibilidade um episódio decisivo na história de um país quase que desconhecido do mundo ocidental. Também é uma lembrança de que por trás de cada número de vítimas de uma guerra há uma pessoa, uma história e um testemunho de dor e sofrimento que não se apagam com o fim do conflito.

    Ah! O filme é o escolhido para representar o Camboja por uma vaga de Filme estrangeiro no próximo Oscar! O Brasil escolheu Bingo: O rei das manhãs para nos representar. Já fizemos um post explicando como o Brasil escolhe o filme para o Oscar.

    Nota:

    Imagens: 1996-98 AccuSoft Inc., All right

    Trailer de First they killed my father

     


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