Mary Shelley | Uma visão sem vida da criadora de Frankenstein

    Mary Shelley

     

    Um dos maiores clássicos de terror de todos os tempos foi escrito por uma mulher. Mary Shelley, filme que conta um pouco da vida da autora de mesmo nome (de casada), no entanto, não consegue valorizar a coragem da autora em fazer sucesso em um mundo até então dominado por homens. A produção está disponível no catálogo da Netflix.

    O filme nos apresenta a Mary Godwin (Elle Fanning), uma jovem de 16 anos que escapa de suas tarefas domésticas para ler livros de terror. Por divergências com a madrasta, ela é enviada à Escócia, onde conhece o jovem poeta Percy Shelley (Douglas Booth), por quem se apaixona.

    Mary Shelley

    Não demora muito até Mary descobrir que Percy já era casado e possuía uma filha, mas isso não a impede de seguir seus ideais de liberdade e de paixão pelo poeta. Resumindo: ela e a irmã Claire (Bel Powley) fogem com Percy e embarcam em uma vida pêndula entre os gastos exagerados do poeta e a falta de dinheiro. Nesta jornada, Mary e Percy têm e perdem uma filha ainda bebê e conhecem Lorde Byron (Tom Sturridge), que desafia todos a escreverem histórias de terror.

    Todos estes episódios são apresentados no filme dirigido por Haifaa Al-Mansour para embasar os sentimentos expressos por Mary em sua obra Frankenstein. O sentimento de abandono é constantemente presente na vida de Mary, reforçado pelos descasos de Percy, o fato de ela não ter conhecido a mãe, que morreu poucos dias após o seu nascimento, a perda precoce da filha e a vergonha do pai quando ela fugiu com o futuro marido.

     


     

    Nada contra querer contextualizar o cenário que ajudou Mary a escrever sua obra-prima, mas o filme acabou se tornando muito mais uma dramática história de amor entre Mary e Percy do que uma homenagem à autora. Mary Shelley teve um importante valor na história da literatura ao publicar um livro de terror de tanto sucesso, uma vez que o gênero (e em muitos casos a própria escrita) era restrita aos homens. Até há uma sequência rápida sobre as negativas que ela recebeu das editoras, que não acreditavam que tal livro pudesse ter sido escrito por uma mulher e, mesmo se fosse, não venderia somente por este fato.

    O filme também tem um problema de roteiro ao se confinar à mera exposição. Todos os fatos são simplesmente apresentados ao espectador, em uma série de acontecimentos que poderiam muito bem sustentar um primeiro ato, mas não um filme completo. Nem a ideia de passagem de tempo é muito bem trabalhada, já que muita coisa acontece e os personagens não refletem muito bem a passagem de tempo. Mais pra frente vamos descobrir que o que parecia ser quase uma década foi na verdade apenas o período de dois anos.

    Mary Shelley

    Um dos pontos fortes do filme é, sem dúvida, a atuação de sua protagonista, Elle Fanning. A atriz já é conhecida por entregar bons trabalhos, embora ainda não tenha encarado algum papel que pudesse lhe render um pouco mais de reconhecimento. A Mary interpretada por ela retrata muito bem uma rebeldia contida por um semblante sério e ações racionais, mesmo diante da loucura que o seu mundo se tornou.

    O fascínio da personagem por trazer alguém de volta à vida, por exemplo, acaba ficando em segundo plano, deixando de lado um importante elemento de Frankenstein. O assunto é rapidamente pincelado em uma apresentação e em uma ou outra conversa, mas não justifica o fato de ela ter escrito todo um livro sobre o tema.

    Para um filme que fala da escritora que trouxe vida aos mortos e fez um dos maiores sucessos da literatura, Mary Shelley tão moribundo quanto o monstro antes de receber descargas elétricas.

    Nota de Mary Shelley:

     

    Imagens: Parallel Films

    Veja também: Dramas para assistir na Netflix

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