Uma das grandes sensações da temporada de premiações é o filme Me chame pelo seu nome, do diretor italiano Luca Guadagnino. A produção é um retrato de um romance de verão no início dos anos 1980 no norte da Itália. Assim como romances de verão, parece muito importante no momento, mas se perde em um contexto maior.
O protagonista do filme é Elio (Timothée Chalamet), um jovem de 17 anos filho de um acadêmico que convida seus pupilos todos os anos para passar um verão na sua casa na Itália. O aluno em questão é Oliver (Armie Hammer), um homem de 24 anos com aquele ar de deus grego que ninguém consegue ignorar.
A história evolui no relacionamento entre Elio e Oliver, que se atraem e desafiam física e intelectualmente. Os personagens também evoluem nesta dinâmica, ora descobrindo novas camadas de si mesmos, ora lidando com suas fraquezas e incertezas. A evolução destes personagens pode ser observada principalmente através de gestos e olhares, é tudo muito sutil. Até que deixa de ser.
Ambientado em um verão dos anos 1980, Me chame pelo seu nome faz um bom trabalho em retratar aquele climinha de verão, com vários nadas pra fazer, festinhas enjambradas e amigos da estação. Quem costumava ir pra praia nas férias escolares sabe bem do que eu estou falando. A paleta de cores menos saturada e alguns movimentos de câmera que lembram filmagens amadoras de férias ajudam a compor este clima.
O problema desse clima de preguicinha é que chega uma hora que cansa. E no caso de Me chame pelo seu nome, cansou um pouco cedo pra duração que o filme se propõe. Eu entendo a escolha do roteiro em privilegiar a rotina, os pequenos gestos e olhares, mas faltou conteúdo pra me convencer da ligação entre Elio e Oliver. Fora alguns diálogos no começo, a gente nem tem muito material pra entender que eles se desafiam intelectualmente. Bem diferente de um Antes do amanhecer, por exemplo, em que os personagens também têm uma ligação breve, porém intensa. Faltou preencher um pouco mais estes momentos para entregar um argumento mais convincente.
Um dos grandes trunfos do filme é a atuação de Chalamet, que apesar do nome, é americano mesmo. Além do inglês, ele fala italiano, francês, toca violão e piano. Dá pra ver que há uma entrega do ator para o personagem, sempre de forma muito ponderada, sem exageros dramáticos. Não é a atuação mais memorável da temporada, mas ele ainda merece a nossa atenção. Podemos esperar mais deste ator em próximos trabalhos.
O filme tem locações lindas, mas o trabalho de fotografia não se esforçou pra valorizar isso. Fora um ou outro momento, faltou um pouco mais de cuidado aqui até para tornar o filme visualmente mais convidativo.
Sobre o restante do elenco: Armie Hammer até faz um trabalho decente, mas não dá a sensação de ser insubstituível. A gente até consegue imaginar outros atores no personagem, com uma idade até mais apropriada. Já os pais de Elio, interpretados por Michael Stuhlbarg e Amira Casar têm um trabalho muito importante, que fica entre a provocação e a compreensão. Stuhlbarg tem um monólogo sensacional no final do filme que funciona muito bem com a racionalidade do personagem. Só é uma pena que ele pareça tanto um cosplay do personagem do Robin Williams em Gênio Indomável.
Aliás, um problema do filme foi esticar a história depois deste momento. Criaram uma espécie de epílogo que, embora desse mais alguns minutos para Chalamet mostrar todo o seu potencial dramático, minou as chances de qualquer suspense ou esperança do que aconteria a seguir. É como se em Antes do Amanhecer aparecesse uma tela de “seis meses depois” e mostrasse os dois se reencontrando na estação de trem. Ficou clichê, manipulativo e, sinceramente, desnecessário.
De forma geral, é um filme com uma proposta interessante de fugir um pouco da fórmula enlatada de Hollywood. Mas falta ritmo e vitalidade em conduzir uma história que, no final das contas, se resume apenas a um romance de verão e não de uma conexão verdadeira entre duas pessoas.
Nota:
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