Vice | Tem pontos altos mas falta consistência

    Vice

    Lembra quando todo ano o Oscar tinha algum filme do David O. Russell cheio de indicações que a gente não entendia? Neste ano esta (des)honra fica com Vice, uma paródia política que não funciona muito bem como cinebiografia e nem muito como comédia.

    O filme em questão se refere ao republicano Dick Cheney (Christian Bale), o vice-presidente dos governos de George W. Bush. Em 2h12, Adam McKay busca contextualizar o espectador sobre a trajetória do político até as articulações que ele fez nos bastidores para viabilizar a “Guerra ao Terror” após os eventos de 11 de setembro de 2001.

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    A primeira parte do filme serve justamente para entendermos de onde Cheney veio e o que o tornou tão poderoso e influente na Casa Branca. Não surpreende ninguém o fato de que ele era um bêbado encrenqueiro que só se endireitou por causa da esposa Lynne (Amy Adams), que era mais inteligente e engajada politicamente do que ele. Lembra um pouco a história do Bill Clinton, que, todo mundo sabe, só acabou se tornando presidente por embarcar na onda da Hillary.

    No entanto, os problemas de Vice já começam nesta contextualização que, além de bem clichê, estende-se mais do que o necessário para entendermos quem, afinal, é Dick Cheney. O excesso de narração em off (ou voiceovers, como preferir) e a verbalização do que já está sendo visto em tela parece subestimar a inteligência do público. Se este recurso fosse utilizado para acelerar a história, como o diretor já fez em A grande aposta, eu até entenderia, mas esta contextualização toda leva cerca de 1h, quase metade do filme.

    Após uma brincadeira do diretor, que felizmente funciona, ao subir os créditos quanto à vida de Cheney ter acabado politicamente e ele e a família viverem felizes para sempre, é que a coisa fica realmente interessante. Tudo começa com um telefonema que levará a um convite para que ele fosse vice-presidente de George W. Bush, ou, como ele e a esposa chamam, “o menino do Bush”, referindo-se ao ex-presidente George Bush.

    A atuação malévola de Cheney nos bastidores do governo Bush para encabeçar a tal da Guerra ao Terror após o atendado de 11 de setembro é a parte mais interessante do filme. A trama mostra bem como ele, de forma discreta, conseguia interpretar a lei e manipular políticos para atender aos seus interesses. O filme, inclusive, aponta como as ações de Cheney possivelmente culminaram no surgimento, ou pelo menos fortalecimento, do Estado Islâmico. Uma pena que esta parte deva representar apenas uns 40 minutos do longa.

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    Há algumas incongruências na narrativa de Vice que não passam despercebidas e enfraquecem o roteiro, como por exemplo, a influência de Lynne nas atitudes do marido. Ora o casal parece uma versão ainda mais caricata de Frank e Claire Underwood de House of Cards, ora ela é relegada apenas ao papel de dona de casa, deixando a personagem meio perdida na história. O holofote, é claro, está em Christian Bale que, apesar de uma atuação pontual, ainda deve muito das suas semelhanças à equipe de maquiagem. Diferentemente do Winston Churchill de Gary Oldman em O destino de uma nação, faltou um pouco mais de presença de espírito de Bale para nos convencer de seu Dick Cheney.

    O resto do elenco está na mesma média ou abaixo. Amy Adams é muito prejudicada pelo roteiro e não consegue brilhar nos seus momentos de tela. Ela também não contou com o mesmo capricho da equipe de maquiagem, que praticamente não envelheceu a personagem em um período de 40 anos. O Bush de Sam Rockwell não tem nada de mais e Steve Carell continua sendo o Michael Scott de The Office.

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    Um dos pontos que ajuda Vice a ficar mais digestível é a edição nervosa, cheia de inserções de noticiários (embora alguns sejam fictícios), que conseguem imprimir certo dinamismo à história, mesmo na problemática primeira metade. São os únicos momentos em que a narração faz algum sentido na trama, além de um evento irônico que acontece com o narrador no terceiro ato.

    Mesmo com seus defeitos, Vice consegue ter momentos que o tornam um filme interessante, principalmente para quem curte documentários no estilo do Michael Moore. Mas falta brilho e sagacidade para ajudar a justificar suas oito indicações ao Oscar.

    Nota de Vice:

    Imagens: © 2018Annapurna Pictures

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