Sabe quando você está em um grupo de amigos que estão bebendo mas você se mantém o único sóbrio do grupo? Assistir a Entre vinho e vinagre é mais ou menos isso e, para meu azar, eu era a pessoa sóbria do grupo. O filme está no catálogo da Netflix.
O primeiro longa-metragem dirigido pela atriz e roteirista Amy Poehler tem uma premissa bem simples e familiar: um grupo de seis amigas decide ir para o Vale de Napa, na Califórnia, comemorar o aniversário de 50 anos de uma delas com direito a muito vinho. O elenco é promissor e dá um tom de nostalgia para os fãs de Saturday Night Live: Amy Poehler, Maya Rudolph, Tina Fey, Rachel Dracht, Ana Gasteyer, Emily Spivey e Paula Pell.
O plot se mantém bem simples para aproveitar o que estas atrizes têm de melhor: brilhar com diálogos tão espontâneos que parecem improviso. Eu não vejo problema nisso, até porque existem filmes brilhantes com premissas simples e diálogos geniais (como é o caso da trilogia Before do Richard Linklater). Só que Entre vinho e vinagre a coisa pareceu meio mal finalizada, parecendo só um esquete que se estendeu por 1h43.
Verdade seja dita: assim como em Saturday Night Live nem todas as piadas são super divertidas e o humor flutua entre tiradas sutis demais para serem notadas ou piadas escatológicas que parecem ser aquela saída “quando nada mais funcionou”. Não chega a ser tão ruim quanto a cena da loja de vestidos em Missão madrinha de casamento, mas o filme não precisava disso.
A fórmula se mantém simples ao apostar no grupo de mulheres que tiram um tempo para se soltar e, eventualmente, entrarem em conflito pelas suas diferentes personalidades. O grupo trabalha bem os arquétipos de uma forma um pouco menos clichê do que outras comédias: temos a controladora que programa a viagem inteira, a mulher de 50 anos que está em negação sobre a idade e outros aspectos da vida, a workaholic, a que esconde algum segredo, a que é mais saidinha e fala com todo mundo e a que tem problemas de ansiedade e quase não foi na viagem. Tudo isso fica bem definido de cara e é bem trabalhado no filme – umas com mais tempo de tela do que outras.
A participação da Tina Fey é decepcionante justamente por ela não ter muito o que fazer no filme como a proprietária do Airbnb alugado pelo grupo. Era pra ser aquele personagem que cai de paraquedas no meio da trama para algum off-topic cômico (mais ou menos como o Jesse Plemons em Noite de Jogo), só que não funciona.
Como o roteiro não é dos mais fortes e o filme depende basicamente dos momentos de diálogo e suposto improviso, torna-se um problema o fato de nem todas as piadas funcionarem, principalmente na primeira metade do filme quando as personagens estão queimando a largada com a bebedeira. Parece aquele grupo de turistas mal educados que ficam causando no restaurante enquanto você só queria ter uma janta decente. Se eu encontrasse um grupo destes em uma viagem de férias eu certamente olharia feio.
Outro problema que pega é na tradução para o português. As piadas dependem bastante de jogo de palavras no melhor estilo tiozão. Não é aquela coisa que vai arrancar gargalhadas, mas algumas até rendem algumas risadinhas. O problema é que trocadilhos são absurdamente difíceis de traduzir e em vários momentos a piada se perde. Um exemplo é quando uma delas sugere que o grupo tome metanfetaminas pra “turbinar” a noite, referindo-se à droga como Molly. Uma das personagens responde “I did Molly in college, but then she went back do her boyfriend”. O que foi tristemente traduzido como “Eu tomei bala na faculdade, mas era Halls”. Eu não sei como eles poderiam ter traduzido melhor, mas é uma pena ver uma piada se perder assim.
Assim como as personagens se conheceram trabalhando para uma pizzaria, as atrizes têm algo em comum no passado: o próprio Saturday Night Live. Saber este histórico ajuda bastante a entender algumas escolhas e a apreciar a química do elenco. Elas devem realmente ter se divertido fazendo o filme, a gente só queria conseguir se divertir da mesma forma.
Mesmo formulaico, o filme consegue fugir de alguns clichês do gênero, como trazer à tona as inseguranças das mulheres de uma forma bem respeitosa e não cair na história do subplot com romance. A rixa com os millenials é meio previsível, mas os fãs de The Nanny vão conseguir se divertir um pouco.
Na direção, Amy Poehler é operacional e tirou bastante vantagem das belas paisagens do Vale de Napa. Em alguns momentos até parece ser material promocional do departamento de turismo da região. O ritmo é um pouco problemático e algumas piadas não têm espaço para respirar, mas né? É só o primeiro filme dela.
Mesmo sem muita ambição e com um roteiro que parece simples demais para errar, Entre vinho e vinagre deixa um gostinho azedo por não ser nem tão divertido e nem tão reflexivo como poderia. No fim das contas, parece aquelas histórias que os seus amigos contam chorando de rir e, mas que você “precisava estar lá pra entender”. Só que nós não estávamos. Nós estamos em casa assistindo pela Netflix e nem sempre com uma garrafa de vinho do lado.