Enquanto a galera ainda tá debatendo a falta de diversidade da Academia, eu tenho uma questão bem mais pertinente pra levantar. Depois do sistema de cotas Meryl Streep, parece que surgiu um novo esquema de indicação garantida por lá: Jennifer Lawrence. Nos últimos três anos foram três indicações e uma vitória, todas em filmes do apático David O. Russel. Enquanto eu assistia Joy no cinema eu empacava na mesma pergunta das duas últimas temporadas da premiação: é pra tanto?
Em mais uma obra de David O. Russel, Jennifer Lawrence está impecável no papel de interpretar a si própria. Tanto nos filmes do diretor como nos blockbusters Jogos Vorazes e a nova trilogia X-Men, versatilidade não é o forte dela. Sempre legal demais, passando por momentos difíceis, desbocada e com uma ironia ensaiada que cansa. Pra fazer justiça, ela consegue ser até mais versátil em produções mais comerciais, mas nos filmes do David O. Russel é basicamente a mesma coisa. E a Academia continua insistindo em indicações. Talvez pra ganhar a simpatia do público, já que Jennifer Lawrence é a atual queridinha da América, ou pra justificar a vitória roubada em 2014, quando a estatueta deveria ter ficado com Jessica Chastain. #neverforget
Mas falando do filme em si, parece que a gente já viu aquilo tudo antes. Não só pela reunião dos atores Jennifer Lawrence, Bradley Cooper e Robert De Niro com David O. Russel. É aquela típica história de sucesso baseada em fatos reais de alguém que não tinha nada, se ferrou a vida inteira e alcança a redenção e uma fortuna gorda através de muito trabalho e cara de pau pra enfrentar todo mundo que não acredita no potencial da personagem. Rola até aquela cena clássica da mulher cortando os próprios cabelos na frente do espelho e você sabe que a partir desse momento ela vai deixar de ser sofrida. É tipos Sansão ao contrário: cortou o cabelo, pá! Tem força pra enfrentar todo mundo. Gente, se eu fizer isso só vou ter uma crise de choro e uma conta bem grande com a cabeleireira que vai ter que consertar o estrago.
Uma das coisas que eu achei forçada no filme (além do figurino e atuações caricatas) foi o Girl Power que tá meio desmedido. Não me levem a mal, como eu já defendi no texto de Mad Max, eu acho super válido produzir filmes com protagonistas femininas fortes. Isso também é uma forma de trazer mais diversidade à indústria de Hollywood (afinal, a Academia é apenas um reflexo). Porém tivemos personagens masculinos muito subaproveitados. Bradley Cooper mesmo tinha um papel tão pequeno que poderiam ter contratado alguém bem mais baratinho. Mas o que me incomodou mesmo foi a insignificância que deram ao filho de Joy. Para quem, assim como eu, ficou confuso com o tamanho da prole, ela tinha dois filhos: um menino e uma menina. A menina está presente em todos os momentos importantes, inclusive em tomadas de decisão para a empresa de Joy. O menino só teve alguma importância numa cena lá em que ele estava doente. Sério, de vez em quando eu achava que a guria era filha única ou que tinham esquecido o guri na colônia de férias pra sempre.
O que eu achei realmente legal, além da trilha sonora, foi a participação especial de Melissa Rivers interpretando a própria mãe, Joan, quando apresentava programa de compras pela TV, no comecinho da Fox. Ela inclusive deu um pitaco rasteiro no figurino escolhido por Joy que os fãs de Fashion Police não poderiam achar mais fofo (até porque no programa ela era muito mas, hã, certeira).
Enfim, cotas Jennifer Lawrence a parte, o filme é bem fraquinho. Não entendi as indicações ao Globo de Ouro, mas né? Perdido em Marte levou por COMÉDIA. Pra ver como não dá pra confiar tanto na crítica (mas em mim sim, viu? Cês sabem que eu nunca mentiria de graça pra vocês). Pelo menos no Oscar o oba-oba foi menor e a única indicação é pra Melhor Atriz (?). Enfim, que a onda O. Russel esteja passando por lá e dê lugar a produções mais interessantes daqui pra frente.