Quando eu assisti Moonlight eu me dei conta de como a galera se contentou com pouco quando saiu Boyhood. As histórias dos dois filmes tratam sobre o crescimento de um menino e da busca por sua identidade. A de Boyhood beira o banal. A de Moonlight tem muito mais conflitos em uma estrutura social muito mais complicada e nem por isso menos real. Mas as comparações vão parar por aqui porque Moonlight tem brilho próprio (da luz do luar, rá!).
A história de Chiron é dividida em três atos: infância, adolescência e fase adulta. Os dois primeiros são particularmente poderosos e buscam retratar a realidade de algumas comunidades negras no estado da Flórida. Mães solteiras viciadas em crack, traficantes que possuem um papel importante na “comunidade” e bullying são os temas mais recorrentes aqui. Para a situação de Chiron há ainda mais uma particularidade: a homossexualidade. Todos estes elementos reaparecem nos três diferentes atos do filme.
Perseguido pelos coleguinhas e negligenciado pela mãe, Chiron vê no traficante Juan (Mahershala Ali) a figura paterna e escapista, quando as coisas vão mal. Aliás, a inversão de papéis aqui é gritante: sempre pensamos naquela imagem de traficante do mau e nas mães protetoras, mas não é o que você vai ver em Moonlight. Juan cativa a todos por meio da interpretação poderosa de Mahershala Ali (sim, temos uma torcida declarada para o Oscar aqui).
Já que estamos falando em atuações, eu não posso deixar de falar de Naomie Harris, que interpreta a mãe viciada de Chiron. Eu já achei essa atriz promissora em Piratas do Caribe (pra se ter uma ideia), mas aqui ela consegue te assustar: são praticamente três personagens em uma, dependendo do momento do filme. Se não fosse por Viola Davis, certamente levaria o Oscar para casa.
A arte em Moonlight é quase um personagem com vida própria: a câmera dança com os personagens, a fotografia é impecável e a trilha sonora dá beleza a uma história que, a princípio, não tem nada de bonita.
Uma coisa que acho que o filme ficou devendo um pouco foi no terceiro ato, quando Chiron supostamente encontra a sua identidade depois de adulto. Não vou dar spoiler, mas acho que a conclusão aqui ficou devendo e muito à força das duas primeiras partes da história. Não surpreende, não acrescenta muita coisa ao personagem e apenas confirma o que a gente já imaginava que ia acontecer. Chiron merecia coisa melhor.
Não é um filme sobre racismo, homossexualidade ou bullying, apesar de estes elementos estarem lá o tempo inteiro. É um filme sobre a busca de um menino pela sua identidade em um cenário que não o ajuda em nada. Está muito mais próximo da crítica do que do grande público, então, assista inspirado.
Nota:
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