O inimigo agora é outro… mas é o mesmo

    Coronel Nascimento: pica das galáxias

    Filme brasileiro de sucesso segue a tradicional fórmula da história de pobreza no sertão nordestino ou da violência no Rio de Janeiro, certo? Tiroteio e palavrões são elementos indispensáveis do segundo caso, eles estavam lá em Carandiru, Cidade de Deus e Tropa de Elite. O que tornaria Tropa 2 diferente disso tudo? Vou ser tão direta quanto os caveiras do filme: pela amplitude e densidade do tema.

    Tropa de Elite 2 – O inimigo agora é outro não poderia ter um título mais pertinente. Depois do primeiro filme ter jogado a população contra os bandidos com a ideia de que “bandido bom é bandido morto”, na sequência José Padilha joga na cara de todo mundo que o buraco é muito mais embaixo (e nem precisa trazer a vassoura pra saber disso).

    A versão 2010 da história do Coronel Nascimento (sim, Capitão agora é coisa de aspira) vai contra dois grandes clichês cinematográficos: o de que toda sequência é ruim e de que “o filme até que é bom por ser brasileiro”. Esqueça isso! No primeiro caso, Tropa 2 atende ao propósito de que toda continuação deveria ter: fazer a história evoluir, ao invés de ser apenas uma “nova aventura”. José Padilha traz consigo o que eu apelidei de “efeito Michael Moore” ao aproximar o espectador da realidade absurda do filme e fazer com que ele se envolva. No segundo caso, o filme não perde em nada pra bons filmes de ação que envolvem questões políticas nos EUA ou na Europa. A diferença é que lá a entidade a ser combatida é “o terrorismo”. Aqui a entidade é outra, apenas apelidada de “o sistema”, familiarizado?

    “Sabe o que é isso, senhor governador?”

    Trilogia Padilha

     

    Pra entender melhor a evolução que Tropa 2 representa, é fundamental assistir às obras anteriores. Sim, no plural, afinal, não é em Tropa 1 que tudo começa:

    Ônibus 174: documentário do mesmo diretor sobre o caso do sequestro de uma linha de ônibus que parou o Brasil em 2000. Por ser um documentário, há vários lados da história: desde o policial que participou da operação até o pessoal dos direitos humanos (aliás, a visão desse pessoal em Tropa 2 é impagável). Trata-se de um caso isolado, mas já expõe a fragilidade do esquema de segurança no país. Ah, e vale reforçar que é “Ônibus 174” e não aquele filmeco que fizeram depois.

    Tropa de Elite: conta a história do Bope: o que é, pra que serve e quais as principais diferenças entre eles e a polícia regular. Claro que dá uma endeusada no Batalhão e uma demonizada nos bandidos. Aliás, endeusado mesmo é o Capitão Nascimento e seus bordões que ficaram conhecidíssimos nos últimos anos.

    Tropa de Elite 2: o enredo evolui do início ao fim. O que começa com uma simples operação em Bangu 1 termina com uma rede muito mais complexa de corrupção, que revolta ainda mais personagens do que no primeiro filme. Os bordões engraçados estão lá, mas a história é muito mais séria pra rir o tempo inteiro. Além da típica rivalidade de polícia x bandido, há interesses políticos, particulares, profissionais… enfim, é tudo parte do “sistema”.

    Coronel Nascimento: pica das galáxias

    Caveira

    A melhor característica de Tropa 2 é toda a crítica política sem ser partidária, coisa muito rara no Brasil. Acho que a crítica mais específica se dá no começo do filme em relação aos “intelectuaizinhos de esquerda”. Mas até isso sofre reviravoltas ao longo da trama.

    Muleque

    O meu pet hate com filme nacional é aquele monte de crédito no início. Todo mundo que botou dinheiro lá quer aparecer. Isso sem contar os merchans da Brahma e da Claro ao longo do filme. Outra crítica é em relação ao timing do lançamento: deveria ter estreado antes do primeiro turno das eleições desse ano. Isso só reafirma as manobras que vimos no filme.

    “Deu merda… camisa dos direitos humanos, escrita em inglês e manchada de sangue…”

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