Sim. Eu chorei em Toy Story 3

    Ok. Pelo título até pareço uma daquelas pessoas que chora em qualquer filme Disney ou dramalhões baratos. Quem me conhece sabe que isso não faz nem um pouco o meu tipo: não chorei em Titanic, A Vida é Bela ou ainda quando o pai do Simba morre em Rei Leão (caso alguém ainda não tenha assistido, desculpem pelo spoiler). Então, por que diabos se emocionar na segunda sequência de um filme que deveria ser só aventura e risadas?

    A relação com Toy Story

    Para isso, é necessário regressar ao fatídico ano de 1996: tivemos um dia a mais, cinco integrantes dos Mamonas Assassinas a menos e provavelmente um número insignificante de medalhas nas Olimpíadas. Eu tinha 8 anos e estava concluindo a 3ª série do ensino fundamental quando assisti Toy Story pela primeira vez. Era divertidíssimo, diferente de todas as animações 2D que se acumulavam em fitas VHS na sala de casa. Confesso que eu mesma já tinha imaginado o que meus brinquedos faziam quando eu não estava por perto. Adequado para a minha idade e, por incrível que pareça, até para o meu pai, que nunca foi muito “Disney friendly”. Nunca foi meu filme preferido, mas divertia.

    Três anos depois fui ao cinema com minha irmã e minha prima assistir à sequência enquanto a “Mamãe Noel” fazia compras de Natal no shopping. Não sei se era a vontade de querer me provar crescidinha (eu JÁ tinha 11 anos, né?), mas Toy Story 2 foi super fraco. Talvez seja a maldição da continuação, mas até hoje acho a trama insignificante e não consigo ser cativada pelos novos personagens na película. O melhor ainda é a festa com as Barbies. Melhor ficar só com o primeiro.

    Incríveis 11 anos depois, com o dobro da idade que tinha no último filme, a terceira história me cativou. Ok, não foi amor à primeira vista. A princípio trata-se de mais uma aventura aparentemente impossível para os brinquedos do Andy, que acabam se safando no final. Novos brinquedos, vilões traiçoeiros e a amizade de Woody e Buzz vencendo todas as adversidades no final das contas. Resumidamente, é apenas mais uma “toy story”.

    Quando a trama cresce (literalmente)

    O personagem que me sensibilizou desta vez sempre esteve presente, mas nunca prestamos muita atenção nele. O dono do quarto e dos brinquedos: Andy. Aos 17 anos ele obviamente já não brinca mais com seus amigos de plástico, que estão apreensivos diante do fatídico destino de ir para o lixo, o sótão ou acabarem indo embora em mais uma rifa ou doação à creche.

    A despedida de Andy dos primeiros pertences é algo pelo qual todos nós passamos em algum momento. Trata-se da ruptura da nossa inocência, do nosso tempo livre, para ingressar no ameaçador mundo dos adultos. Eu já iniciei esse processo aos 12 anos, na primeira mudança de residência. A segunda mudança, desta vez para um apartamento, aos 15 anos foi ainda mais radical. Mas nessa idade a gente nem se dá conta da transição pela qual está passando. Andy teve direito a uma última tarde de brincadeiras. Eu não. Na hora não me fez falta. Agora penso a respeito. Não pela simples posse dos brinquedos, mas para poder fazer parte do ritual mais despretensioso que existe. Você não tem compromisso, objetivo ou preocupação quando brinca. Finge que é um ou vários personagens ao mesmo tempo. Liberta-se da sua identidade, sabendo que voltará a ser você mesmo quando a brincadeira acabar. Quem aí nunca se cansou de “brincar” de ser adulto? Bem mais simples apertar o off naqueles dias, não?

    Filosofadas à parte, vale a ida ao cinema. Não precisa ter um tom tão sentimental. Vale pela diversão. Por ver o primeiro encontro da Barbie com o Ken (que, na minha opinião, roubam completamente a cena) e pelo Buzz Lightyear encarnando um amante latino. É um filme pra rir, não pra chorar. Mas é inevitável não sentir aquela ponta de saudade, de vontade de voltar àqueles dias nem que fosse por apenas uma tarde, ou até mesmo de se perguntar como está aquele brinquedo que você não abandonava (ou não se deixava abandonar) antes de substituí-lo pelo computador, celular ou qualquer outro brinquedo que, ocasionalmente, usamos para trabalhar. Definitivamente um ótimo filme infantil para adultos.

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