Quem já está saturado da onda de filmes de super-heróis pode até achar que as adaptações de histórias em quadrinhos para o cinema se resumem a isso. Fora do já batido eixo Marvel-DC, tivemos sim filmes que vieram dos quadrinhos que fogem dessa lógica. O melhor deles? Sin City: A cidade do pecado.
Para transformar as páginas da HQ policial de Frank Miller em um longa-metragem, Robert Rodriguez precisou confirmar para o autor de que isso era possível e também uma boa ideia. Sim, o tio Frank não queria ver a sua obra nas telonas antes disso (e com razão). Além de dar o aval, o próprio Frank Miller participou da produção e fez até uma ponta no filme.
O longa reúne três histórias e mais um segmento mais curto, utilizado apenas no prólogo. O primeiro deles é The hard goodbye (traduzido no Brasil apenas como “A cidade do pecado”). Aqui temos o durão Marv (Mickey Rourke) que busca vingança pela morte de uma prostituta que “foi boa com ele”. Nesta busca, ele descobre muito mais sobre a sujeira que já faz parte do alicerce de Basin City.
Terminada a história de Marv, começa The big fat kill (A grande matança), que traz um elenco ainda mais estrelado: Clive Owen, Benicio Del Toro, Brittany Murphy, Rosario Dawson e até uma ponta de Quentin Tarantino, que dirigiu uma sequência desta história. Aqui, uma discussão entre Shelley (Brittany Murphy) e seu ex-namorado Jackie Boy (Del Toro) acaba gerando um grande problema para o atual namorado dela, Dwight (Clive Owen) e as prostitutas de Old Town.
Resolvido isso, começa That yellow bastard (O assassino amarelo), em que o policial Hartigan (Bruce Willis fazendo o que faz de melhor) está no encalço de um assassino que molesta meninas. Ele consegue salvar a jovem Nancy Callahan , antes que ela se torne mais uma vítima. Claro que na lógica de Sin City bonzinho só de ferra e o Hartigan passa oito anos na cadeia. Quando sai, ele precisa proteger a crescida Nancy (Jessica Alba) de um repugnante assassino de cor amarela.
Diferentemente das adaptações comuns de quadrinhos, Sin City possui histórias fechadas que em algum momento se comunicam entre si, o que torna a transposição para a telona muito mais fácil. O difícil aqui seria trabalhar a atmosfera noir criada pelo preto e branco que o Frank Miller criou no papel, mas com uma atmosfera meio cartunesca até isso foi possível. O filme é em preto e branco mesmo, com apenas algumas inserções de cor em momentos bem específicos.
Para quem leu as HQs, é o maior fan service já feito nas telonas. Isso porque, fora uma ou outra podada por questões de tempo, o filme é idêntico aos quadrinhos. Sim, o storyboard é a própria HQ. Não à toa, depois do filme eu voltei a ler os quadrinhos e ouvir as vozes de Mickey Rourke, Bruce Willis e Brittany Murphy nos personagens. Pra quem não leu as histórias, pode não ter a mesma magia e satisfação, mas ainda será um bom filme policial com bastante ação, uma estética incrível e um elenco de peso que consegue ser bem aproveitado.
Caso você seja realmente novo no universo de Sin City, eu recomendo começar pelos quadrinhos, “como Deus quis”. Aliás, não se limite apenas às histórias do filme. Procure as histórias curtas e as demais graphic novels que ajudam a entender e enriquecem muito mais o universo pecaminoso criado por Frank Miller.
Apesar do filme ser uma adaptação extremamente fiel, ler as três histórias proporciona uma imersão mais rica, com alguns diálogos e passagens de tempo que acabaram ficando de fora do filme. Mas o longa não fica muito atrás, então vale muito a pena conferir os dois e ficar mais exigente com as demais adaptações de livros e HQs para o cinema.
Obs.: Não citamos propositalmente Sin City 2 porque preferimos esquecer este filme mesmo.
Nota:
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