Vende-se roteiro por um real

    Vende-se roteiro por um real

     

    Não, ainda não larguei o jornalismo pra virar roteirista. O título só se refere ao valor que muitos roteiros de filmes que saem por aí deveriam valer. Acompanhem meu raciocínio:

    Filme X de Xuxa: um cara vai casar > os amigos fazem uma despedida de solteiro em Las Vegas > acordam na manhã seguinte sem saber o que aprontaram durante a noite > o noivo está desaparecido > aos poucos, descobrem que mexeram com traficantes e cafetões > o mais certinho deles casa com uma stripper > no final acham o noivo, voltam a tempo e o casamento acontece. The end! Fotos da noitada são vistas nos créditos.

    Continuação do filme X de Xuxa: um cara vai casar > os amigos fazem uma despedida de solteiro em Hong Kong > acordam na manhã seguinte sem saber o que aprontaram durante a noite > o irmão da noiva está desaparecido > aos poucos, descobrem que mexeram com traficantes e cafetões > o mais certinho deles (que desta vez é o noivo) fez uma tatuagem no rosto > no final acham o irmão da noiva, voltam a tempo e o casamento acontece. The End! Fotos da noitada são vistas nos créditos.

    Ok, não é um ataque pessoal a Se beber não case, até porque o filme é bem divertido. O problema é que a continuação é descaradamente um plágio do primeiro, o que acusa a preguiça de muitos roteiristas hoje em dia. Pode ver: qualquer filme que fatura alguns milhões acima do esperado ganha uma continuação ou até uma franquia completa. Quando ainda estava em cartaz, Avatar já tinha sua continuação anunciada aos quatro ventos.

    Todo mundo sabe que não é de hoje que franquias, trilogias e continuações em geral existem. Guerra nas estrelas, O Poderoso Chefão e os incontáveis filmes do 007 estão aí pra provar isso. Mas a impressão que dá é de que hoje a coisa está bem mais banalizada e que ninguém mais sabe a hora de dizer chega. Enquanto o dinheiro estiver entrando, os estúdios continuam mandando mais continuações com cópias das cópias da história original.

    Por que é tão bacana ver filmes como Pequena Miss Sunshine, A Origem ou Juno? Porque são realmente originais. Não descendem de adaptação de livros, quadrinhos ou filmes anteriores. São um refresco para a inteligência na indústria cinematográfica.

    Eu admito a minha parcela de culpa em colaborar com a bilheteria das franquias que eu gosto, porém, é inegável a riqueza de um filme novinho em folha. Nenhum livro que o precedeu e nenhum enredo de filmes anteriores. Cinema não é seriado, vamos usar as continuações com moderação antes que extingam a categoria de “Melhor roteiro original” das premiações.

     

    Texto criado para o blog da Wazap que arriscou publicar outro texto meu na próxima edição da revista. Preparem-se pro ahazo, galera!

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