Confira a crítica de Nomadland, indicado ao Oscar 2020:
Sobre o que é a história: Fern (Frances McDormand) é uma mulher de 60 e poucos anos que vive como muitas pessoas de sua geração nos Estados Unidos: incapaz de se aposentar confortavelmente, mas que também não consegue manter financeiramente uma residência fixa. Ela viaja em seu trailer pelo país em busca de trabalhos temporários e conhece campings com muitas pessoas na mesma situação.
É muito interessante a construção do filme, que mescla documentário e ficção com a intermediação poderosa da atuação de McDormand (oscarizada recentemente por Três anúncios para um crime). A sensação é a de estar assistindo a um documentário sobre as vidas destas pessoas, e saber distinguir quem é um personagem fictício de quem é uma pessoa de verdade.
O filme questiona o sonho americano da estabilidade tão buscada pelos baby boomers e apresenta uma realidade que muitos deles não achavam que precisariam lidar. Não há qualquer tipo de crítica muito objetiva ao capitalismo ou ao sistema que permitiu que os sonhos desta geração se transformassem em uma série de “bicos” pelo país. Há apenas o registro agridoce de quem são os nômades hoje em dia nos Estados Unidos.
O ponto que mais me chamou a atenção no filme, além da atuação de Frances McDormand, é claro, foi a fotografia utilizada. A diretora Chloé Zhao soube aproveitar muito bem a devastação do interior dos Estados Unidos e, ao capturar cada nascer e pôr do sol, conseguiu enchê-lo de beleza. Mais ou menos como a vida das pessoas que ela retrata: pode parecer muito vazio, mas há sim algo pleno em não se prender a lugar algum.
Dito isso, preciso confessar que o roteiro não me cativou. Achei o ritmo meio arrastado, com poucas passagens que realmente fizessem com que eu me importasse com aqueles personagens. Eu entendo que é um retrato de realidade e um baita estudo de personagem no caso da Fern, mas não sei, algo se perdeu ali para que eu me relacionasse com aquilo. Vi uma comparação de Nomadland com o clássico As Vinhas da Ira, de John Steinbeck, como uma representação moderna da trama e isso fez todo o sentido pra mim: eu levei meses pra ler aquele livro porque achei maçante e não conseguia simpatizar com os personagens. Pelo menos aqui a coisa se resolve em menos de duas horas e tem uma paisagem legal pra ver.
Nomadland está indicado a seis Oscars nas seguintes categorias:
Melhor Filme
Melhor Atriz (Frances McDormand)
Melhor Direção (Chloé Zhao)
Melhor Roteiro Adaptado
Melhor Edição
Melhor Fotografia
Chances reais: Frances McDormand é uma força da natureza, então sempre vem forte para as premiações, porém, este ano tem mais cara de Viola Davis ou até mesmo Andra Day. Para Direção também não acredito numa vitória, apesar do trabalho de misturar ficção e realidade ser mesmo interessante, não acharia ruim uma estatueta aqui. Para as categorias de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição acho bem difícil, e no caso dos dois últimos não acharia nem muito justo. O que eu realmente acredito e torço é o Oscar de Fotografia: pra mim é o mais forte entre todos os indicados neste aspecto (embora possa rolar um privilégio para Mank).
Nota: