Blade Runner 2049 | Melhor que o original?

    Blade Runner 2049


     

    Produzir uma continuação pra um filme de 35 anos marcado pelas tretas durante e após a produção pode parecer uma missão suicida no cinema. Felizmente, o resultado de Blade Runner 2049 é o de um filme que anda sozinho, embora fortemente amparado pelo anterior, e que consegue aproveitar a tecnologia atual em favor de uma narrativa que aprofunda ainda mais a filosofia do anterior.

    Como o próprio título do filme diz, o filme se passa em 2049, 30 anos após a história do primeiro. Aqui, replicantes mais modernos e obedientes caçam e “aposentam” os modelos antigos – aqueles que conhecemos em Blade Runner e também nos curtas que antecedem a sequência. K (Ryan Gosling) é um destes policiais, que, em meio a uma missão descobre uma pista que pode revolucionar a forma como estes androides são produzidos e deixar ainda mais incerta a questão entre humanidade e inteligência artificial.

    Cena de Blade Runner 2049

    Assim como no original, a proposta aqui é fazer um filme de detetive em uma ambientação futurista. Não é aquele filme de ficção científica cheio de perseguições supersônicas, sabres de luz e ação incessante. Fora uma ou outra cena de luta, é um filme contemplativo, sobre um detetive que busca pistas sobre um caso que tem muito de descoberta pessoal também.

    Mesmo sem toda a ação, em momento algum o filme se torna vazio (a não ser que você tenha a capacidade de atenção de um esquilo). Há uma sequência de descobertas que nos ajudam a desvendar a história junto com o Ryan Gosling e isso preenche bem boa parte das quase 3h de filme. Também existem elementos bem clássicos de jornada do herói aqui e de uma perseguição dos vilões pra cima dos mocinhos.

     


     

    A qualidade técnica é de longe o fator mais deslumbrante do filme, mas ela consegue se destacar sem prejudicar a história. Denis Villeneuve (que também dirigiu A Chegada) trabalhou com o diretor de fotografia Roger Deakins, que também assina produções como 007 – Skyfall e Onde os fracos não têm vez. O resultado da parceria é uma construção de mundo fantástica, com uma fotografia impecável e uma direção de arte pesada sem ser forçada. O CGI é muito bem utilizado e atende muito bem aos propósitos do filme: seja pela claustrofobia da cidade ou a devastação e o vazio dos locais abandonados.

    Cena de Blade Runner 2049

    Se Blade Runner 2049 é uma baita experiência visual, o mesmo pode-se falar do som. A edição de som e a trilha sonora te trazem pra dentro da história de uma forma invasiva mesmo, mais até do que em Dunkirk. A trilha do Hans Zimmer pode não ser tão crucial como a do Vangelis foi para o primeiro filme, mas ele conseguiu modernizar a música sem desrespeitar o tom do original. Tem cara de Hans Zimmer e tem cara de Blade Runner. Aliás, é um filme para se ver no cinema. Não precisa do 3D, mas a qualidade do surround é fundamental para a experiência.

    As atuações não são as mais memoráveis do cinema, mas todo mundo está desempenhando o seu papel bonitinho. A própria apatia do Ryan Gosling serve muito bem o seu personagem, que entrega muito pouco dos seus sentimentos (como era de se esperar) mas ainda consegue fazer com que o público enxergue uma faísca de humanidade nele. Jared Leto parece estar interpretando a si mesmo, mas caiu bem para o personagem e Harrison Ford não teve tempo de tela o suficiente para mostrar algo além daquilo que a gente já conhece dele, mas é o Deckard, a gente enxerga isso. No elenco de apoio, méritos para Sylvia Hoeks, Ana de Armas e Robin Wright.

    Cena de Blade Runner 2049

    Uma continuação para Blade Runner 2049? 

    Sobre a duração e o ritmo do filme, um dos motivos que mais está afastando o público, ele só chegou a ser um problema no terceiro ato. Sem entregar spoiler, acontece algo na narrativa de criar muitas pontas e não conseguir amarrar todas elas em tempo. Os últimos 45 minutos conseguem ser arrastados e corridos ao mesmo tempo (se é que isso é possível). Parece que focaram no lado errado da história, mas na verdade tudo se costurou para que seja feita uma sequência.

    Não gosto muito desse negócio de nos apresentarem a personagens supostamente importantes com apenas mais 30 minutos de filme. Deu a impressão que toda a jornada do K serve apenas para ligar o filme A ao filme C. Aliás, o pouco tempo de tela do Jared Leto e do Harrison Ford já dá a letra de que vai ter mais história ali sim. Fica a torcida para que se mantenha a qualidade narrativa e que não seja apenas um filme de um grande conflito.

    Harrison Ford em Blade Runner 2049

    A verdade é que nada disso chega a estragar a história ou a experiência do filme. Blade Runner 2049 funciona bem como uma trama (quase) fechada e como uma continuação do original. Mais do que uma bela homenagem, o filme conseguiu tirar a bagagem negativa do primeiro filme (briga de estúdio, diretor e elenco, infinitas edições…), dar um pouco mais de luz à história e aprofundar as questões existencialistas em uma sociedade em que a tecnologia às vezes tem mais humanidade do que os seres de carne e osso.

    Quanto à pergunta do título, ninguém questiona a relevância de Blade Runner para o cinema. Seria uma heresia dizer que o peso de Blade Runner 2049 seria maior neste aspecto. No entanto, em termos de narrativa e de qualidade técnica, o salto de 1982 a 2017 não pode ser ignorado. Vamos torcer pra que não estraguem tudo em um próximo filme.

    Nota:

    Imagens: © 2016 Alcon Entertainment

    Trailer de Blade Runner 2049

    https://www.youtube.com/watch?v=OEW3gbptBZg


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