Por que Pantera Negra merece estar na corrida do Oscar

    Pantera Negra

    Alguns comemoraram e outros acharam que a Academia está em uma tentativa desesperada de deixar o Oscar mais popular, mas o fato é que Pantera Negra merece estar na corrida do Oscar e eu vou explicar o porquê.

    “Ah, mas filme de super-herói da Marvel se você já viu um já viu todos”. Sim, eu provavelmente já falei muito isso por aí e é por isso que nos últimos meses eu quase não vi filmes de super-heróis no cinema. Nem Guerra Infinita, nem Aquaman e nem Pantera Negra (Homem-Aranha no Aranhaverso fui ver a muito custo). Mas com a corrida das premiações de cinema e a quantidade de indicações ativou a minha curiosidade e obviamente fui buscar conhecimento.

    O resultado? Embora Pantera Negra seja sim um filme de super-herói com diversos vícios do gênero, há qualidades além dos efeitos especiais e da mixagem e edição de som que o deixam um pouco acima da média dos filmes do gênero. Vou listar aqui as principais delas:

    1. Roteiro com uma causa nobre

    Uma das coisas que mais joga os filmes de super-heróis para aquela vala comum é o roteiro. Há sempre uma grande ameaça, cósmica ou não, que vai fazer o super-herói (ou um grupo deles) salvar a humanidade. E por humanidade estamos falando sempre de Nova York, Los Angeles ou alguma grande cidade dos EUA, fictícia ou não (Gotham e Metrópolis, essa serve pra vocês também). Pantera Negra tem quase um roteiro mais próximo de O Rei Leão do que dos filmes dos Vingadores. Há toda uma questão de dinastia, família, herança e responsabilidades em jogo. Além disso, há um dilema moral que o antagonista desperta em nosso herói: de que adianta Wakanda ter tecnologia de ponta se ela não serve para ajudar os descendentes de africanos que moram em outros lugares?

    Pantera Negra

    2. Design de produção e figurino

    Você pode até argumentar que muitos outros filmes de super-heróis capricham no design de produção e é verdade. Um dos mais recentes exemplos é a ambientação de Themyscira em Mulher Maravilha. Mas me arrisco a dizer que em Pantera Negra o capricho foi mais multidisciplinar. A criação de mundo de Wakanda foi um desafio e tanto, já que mistura elementos tribais africanos com uma sociedade futurista que deixaria os Jetsons no chinelo. Além disso, houve todo um cuidado especial com o figurino das personagens que representam o continente africano mas não fica parecendo fantasia de carnaval. É provavelmente um dos meus preferidos nesta categoria no Oscar.

    Pantera Negra

    3. Trilha sonora

    Assim como no item anterior, a música do filme foi muito bem elaborada para ajudar na ambientação de Wakanda, justamente unindo sons tribais com música contemporânea. Confesso que a canção “All the stars”, que concorre separadamente no Oscar, não é a minha preferida e não funciona pra mim. Mas fora isso, a trilha encontrou um ótimo tom para o filme.

    Pantera Negra

    4. Elenco estrelado e bem alinhado

    Eu ainda tenho sentimentos controversos quanto à vitória de Pantera Negra no SAG Awards na categoria de Melhor Elenco. Por mais que a maioria da equipe tenha, sim, feito um bom trabalho, não acho muito coerente premiar um elenco sendo que nenhum dos atores foi indicado separadamente em alguma categoria. Mas talvez este seja justamente o grande segredo do filme: a conquista é coletiva. Cada ator deu uma pequena contribuição para fortalecer o elenco, sem estrelismos e sem grandes destaques (até porque o Sterling K. Brown quase não aparece no filme). E olha que estamos falando de um elenco com Angela Basset, Lupita Nyong’o, Forest Whitaker e nomes em ascensão, como Michael B. Jordan, Daniel Kaluuya e Letitia Wright.

    Pantera Negra

    Claro que nem tudo são flores em Pantera Negra…

     O filme tem sim muitos pontos fortes e merece cada uma das suas sete indicações ao Oscar, além de ser um marco relevante para a representatividade negra no cinema. Porém, Pantera Negra ainda dá algumas escorregadas típicas de filmes de super-heróis que eu vou apenas pincelar porque é meio que óbvio:

    Roteiro se perde um pouco: sim, eu elogiei mas vou puxar a orelha do roteiro também. Embora todo o dilema moral e a herança de Wakanda realmente deixem a coisa interessante, sempre precisa ter aquela disputa de vilão x mocinho e uma ameaça de guerra mundial. Ah, e uma associação com a CIA, como se eles realmente resolvessem todos os problemas mundiais. É a parte mais caricata de quadrinhos e a menos desinteressante.

    Pantera Negra

    Extensas cenas de ação: sim, eu sei que é ali que a galera do CGI pira e as grandes massas veem valor no filme. Não estou dizendo para tirar as cenas de ação, mas o filme poderia ter uma história mais fluida e uns 35min a menos se resumisse alguns confrontos ao longo da trama.

    Protagonista fraco: não, ninguém mais quer um protagonista perfeito, mas este nem chega a ser o problema de T’Challa (Chadwick Boseman). Ele é inexpressivo, meio bundão e provavelmente o personagem menos interessante de toda a história. E, me desculpe, mas eu quero pelo menos simpatizar com o personagem num filme desses. Em alguns momentos ele me lembrou o Harry Potter que, se não fosse pela Hermione, já teria morrido no primeiro livro. Não é difícil simpatizar mais com o vilão do Michael B. Jordan e este tipo de coisa não deveria acontecer, principalmente num filme de super-herói.

    Pantera Negra

    Dito tudo isso, Pantera Negra não está nesta do Oscar por alguma tentativa de deixar a premiação mais comercial. O filme tem seus méritos, principalmente na parte técnica, e é um exemplo de como blockbusters podem sim ter qualidade. Fica a torcida para que sirva de exemplo para futuros filmes mais interessantes neste gênero.

    Nota:

    Imagens: © 2017 – Disney/Marvel Studios

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