Rocketman | A biopic que é um verdadeiro musical sobre Elton John

    Rocketman

    Qual a melhor forma de contar a história de um músico do que por meio de suas próprias canções? Rocketman vai um pouco além da biopic tradicional que tornou Bohemian Rhapsody um sucesso (ainda que controverso) e arrisca ao adotar o formato de musical que facilmente poderíamos ver em um palco da Broadway.

    Tudo começa com um flamboyant Elton (Taron Egerton) entrando para uma terapia de grupo e contando toda a sua história. Não é dos recursos mais originais, mas funciona bem conforme o cantor se despe de sua fantasia. É uma metáfora simples mas eficiente de como todo o brilho e as plumas funcionam como uma armadura para um garotinho tímido.

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    A trama se estende desde o primeiro contato de Reggie Dwight (o verdadeiro nome de Elton) com o piano, suas tentativas de impressionar um pai emocionalmente indisponível e frustrações com o egoísmo da mãe. É legal ver essa desconstrução da família porto seguro e mostrar como isso influenciou nas escolhas do artista – tanto as boas como as más.

    A história em si segue uma fórmula de ascensão, ápice, queda e redenção bem comum em cinebiografias musicais como Ray e Piaf: Um hino ao amor, entre outras. Em comparação a estas duas Rocketman parece um pouco mais raso e sem a entrega de um protagonista do calibre de Jamie Foxx e Marion Cotillard. Taron Egerton faz um bom trabalho, mas nada muito memorável em comparação a estes dois exemplos.

    O trunfo de Rocketman está no fato de que, diferentemente da maioria das cinebiografias (como as duas citadas ali), o filme é um musical de cabo a rabo. As canções de Elton John não estão ali apenas para marcar o período que a história está contando, elas são inseridas como um musical de palco, com toda aquela parafernalha de pessoas cantando e dançando de uma forma fantasiosa. Se você não curte este tipo de filme já fica o aviso, porém, neste filme a coisa acontece de forma tão orgânica que, em vez de escapar do momento, as músicas ajudam a contextualizá-lo de forma muito mais profunda. É só prestar atenção nas letras. Aliás, quem conhece bem a obra de Elton John consegue até adivinhar quando uma ou outra música entrarão em cena.

    Em termos de narrativa o filme não tem nenhuma ambição em reinventar a roda, está tudo lá: os primeiros passos, os empresários babacas, as cenas no estúdio de gravação, o uso de drogas, a briga com pessoas queridas e a eventual redenção do artista. Mesmo um tanto corrido e superficial, Rocketman não se priva de mostrar as falhas e inseguranças de Elton, tirando-o do patamar de mito genial que Bohemian Rhapsody tentou passar.

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    Vi em algum lugar que não se deve comparar os filmes, mas eu discordo. Lançados com menos de um ano de diferença e com um diretor em comum é inevitável traçar um paralelo. David Fletcher, que dirigiu Rocketman, é o cara chamado pra “consertar” Bohemian Rhapsody depois que o Bryan Singer foi afastado por causa de denúncias de assédio.

    Aí a gente fica imaginando o que poderia ter sido o filme do Queen na mão do Fletcher, já que em Rocketman a coisa é bem menos maquiada – se bem que em comparação a Bohemian Rhapsody isso não quer dizer muita coisa. Não sei se essa parte mudaria muito, já que o que deixou o filme mais coxinha foram os próprios membros do Queen, que também eram produtores.

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    Da mesma forma, Elton John era produtor executivo de seu próprio filme, o que diz bastante sobre as escolhas do longa. O que deixa Rocketman melhor que Bohemian Rhapsody é justamente a humildade e humanidade com que o artista é tratado. Apesar de tratarem Elton com uma certa genialidade inata, suas inseguranças estão ali por conta dele e de sua história, e não por uma maquiavélica manipulação de um empresário ou agente.

    Afinal, vale assistir Rocketman?

    Seja você fã ou não do Elton John, é um bom filme para celebrar os anos mais importantes na carreira do artista. Não vai ter nada muito profundo ou controverso, as atuações estão legais, o CGI é um pouco problemático (mas essa não é a proposta mesmo) e as músicas são inseridas de uma forma bem inteligente, lembrando até um pouco o Across the Universe.

    Em Rocketman Elton John quis que suas músicas, acima de qualquer outro elemento, contassem a sua história. E é isso o que o filme entrega.

    Nota:

    Imagens: © 2018 – Paramount Pictures

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