Confira a pocket crítica de Mank, filme indicado ao Oscar 2021:
Sobre o que é a história: o filme conta o tumultuado processo de escrita do roteiro de Cidadão Kane, um dos maiores clássicos do cinema. Ambientado em 1940, Mank foca no roteirista Herman J. Mankiewicz, que estava acamado e com um prazo bem curto para escrever o roteiro para Orson Welles. Além da procrastinação do escritor, o roteiro aborda os problemas com alcoolismo do roteirista e também sobre como funcionam as influências em Hollywood.
A megaprodução de David Fincher com a Netflix é notoriamente uma bela produção e um daqueles Oscar bait de “carta de amor à Hollywood” (como já vimos recentemente com La La Land e O Artista). A fotografia é excepcional e os aficionados por Cidadão Kane terão o prazer de encontrar diversas referências em planos e enquadramentos. A clássica “rosebud” é apenas um exemplo óbvio que Mank fez questão de contemplar sem qualquer tipo de sutileza.
Dito isso, eu honestamente preferia que a Netflix tivesse empregado esse dinheiro em novas temporadas de Mindhunter com o David Fincher. Sim, é um filme magnífico, mas ao mesmo tempo totalmente dispensável. Sei que o longa é um projeto com valor super pessoal para o cineasta, já que o roteiro é do pai dele, Jack Fincher, que é alumnus do próprio Mankiewicz. Justamente por isso, há bastante controvérsia quanto à verdadeira autoria do roteiro – oficialmente Mank coescreveu com o próprio Welles, mas a versão defendida por Fincher é de que ele seria o único autor.
A atuação de Gary Oldman está protocolar, nada tão sensacional como o que vimos em O Destino de uma Nação, quando ele encarnou o próprio Winston Churchill (aliás, se você olhar com bastante atenção, verá traços do primeiro ministro britânico na atuação de Oldman aqui também). Amanda Seyfried é provavelmente o único destaque do elenco e cada aparição dela enche de vida o roteiro arrastado de Fincher pai. Gosto bastante do Charles Dance aqui, mas ele não aparece o suficiente pra merecer destaque.
Sim, a fotografia é linda, os sets resgatam bem a Era de Ouro do cinema de Hollywood e as referências a Cidadão Kane são bem bacanas. Mas é uma pena que isso não é suficiente para realmente despertar o interesse do público. Creio que uns dez anos atrás seria um dos meus filmes preferidos, mas não sei, hoje me parece uma produção pouco pertinente e definitivamente autocongratulatória. A nota vai ser boa por causa dos aspectos técnicos, mas Mank não é um filme que conseguiu me cativar.
Mank acumula impressionantes 10 indicações e é um dos principais concorrentes no Oscar 2021:
Melhor Filme
Melhor Ator – Gary Oldman
Melhor Direção – David Fincher
Melhor Atriz Coadjuvante – Amanda Seyfried
Melhor Som
Melhor Design de Produção
Melhor Trilha Sonora
Melhor Cabelo e Maquiagem
Melhor Figurino
Melhor Fotografia
Chances reais: tem grandes chances nas categorias principais como Filme e Direção, resta descobrir se a Academia vai deixar de lado o ranço com o streaming (principalmente em um ano em que ele salvou os filmes e o público). Apostaria nas categorias mais técnicas e visuais, como Fotografia, Design de Produção, Figurino e Cabelo e Maquiagem, o que eu consideraria merecido. Não deve ganhar nas categorias de atuação, que têm concorrentes mais fortes. Não surpreende a ausência de indicação por roteiro, apesar de ironicamente ser um filme justamente sobre isso.
Nota:
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