O Rei | Filme da Netflix se esforça mas não convence

    O Rei

    Em uma das infinitas adaptações da peça de Shakespeare que conta a ascensão e primeiros desafios do rei Henrique V, O Rei mostra boa vontade para se consolidar como um épico de qualidade para os padrões da Netflix. O problema está na falta de entrega do ator que interpreta o próprio rei, Timotheé Chalamet.

    O filme começa quando Henrique (Chalamet) ainda é um príncipe, vivendo em meio aos plebeus e evitando qualquer tipo de relação com o seu pai, que dá claros sinais de que seu reinado está chegando ao fim. Hal, como é chamado não muito carinhosamente, tem uma postura bem firme contrária à necessidade de guerras, interferindo até nas decisões do campo de batalha para poupar seu irmão Thomas (Dean-Charles Chapman). Mas o destino dele é inevitável e, com as mortes de seu pai e irmão, ele precisa assumir a coroa.

    O Rei

    É uma situação constrangedora pra todo mundo: ele não quer estar ali e nenhum membro da corte quer saber de sua presença. Além disso, Hal busca conselhos no decadente cavaleiro John Falstaff (Joel Edgerton), o que a corte obviamente não vê com bons olhos. Mais desconfortável do que ver um rei que não deveria estar ali é ver a própria atuação apática de Timothée Chalamet, o que leva o espectador perguntar se, assim como Henrique, ele realmente deveria estar ali.

    Após uma tentativa de assassinato por parte do rei da França, Hal tem que ir contra seus instintos e declarar guerra contra o país rival. Isso o coloca em confronto com o sádico delfim, interpretado por um afetado Robert Pattinson. Diferentemente de um filme épico, que se concentra nas batalhas, O Rei dispende a maior parte do seu tempo com as tramoias de bastidores e quedas de braço políticas que o rei enfrenta, o que eu sempre costumo ver com bons olhos.

    Timothée Chalamet em O Rei

    Aliás, o filme possui boa qualidade técnica no que diz respeito à direção de arte e, principalmente, à fotografia. As cenas de diálogo no palácio são escuras, transparecendo a obscuridade dos governantes e das tramoias que permeavam o seu governo. Esqueça qualquer tipo de ostentação, o filme se mantém bem pé no chão, ciente de que isso não era comum nos reinados ingleses daquela época.

    Mas afinal, qual é o problema de O Rei?

    O principal problema do longa está no seu protagonista. Depois de interpretar personagens bem parecidos, Timothée Chalamet tem sua chance de encarar uma figura histórica e se desprender do adolescente supostamente misterioso. Uma pena que ele não dá conta do recado, o que o coloca no meu rol de atores-prodígio superestimados de seus tempos, junto com Jesse Eisenberg e Jennifer Lawrence. É difícil encarar o personagem com empatia e, levando em consideração que a maior parte do tempo de tela é dedicado a ele, isso se torna um problemão para o filme.

    Robert Pattinson era o cara que poderia surpreender, mas a sua versão do delfim da França é tão caricata que talvez renda até algumas risadas (de nervoso, nada ali é engraçado). O sotaque francês dele é sofrível e aquela mania de ficar tirando os louros apliques do rosto tira o resto da credibilidade do personagem. Parecia um vilão mais apropriado para um filme do Shrek.

    Robert Pattinson em O Rei

    A única atuação decente que podemos destacar é a do Joel Edgerton, que beira o irreconhecível com Sir John. Dá pra ver que ele se entregou ao personagem por completo, tanto na voz quase gutural de um homem derrotado pela vida como na linguagem corporal de alguém que ainda tem algo a contribuir. O ator também coassina o roteiro com o diretor David Michôd.

    Aliás, como roteirista Edgerton é um ótimo ator. A história não parece dividir bem o ritmo dos seus atos, tornando-se um pouco cansativa e deixando muita coisa para depois de seu suposto clímax. O resultado é um filme mais longo do que o necessário e que não consegue prender a atenção do espectador com eficiência em suas revelações finais.

    Joel Edgerton em O Rei

    O diretor David Michôd não parece dar conta do recado em relação aos seus atores, mas pelo menos busca fazer um trabalho operante com o uso de câmera. Um dos ápices é a batalha entre ingleses e franceses, que tenta imitar a Batalha dos Bastardos de Game of Thrones. Claro que a qualidade e o impacto não são os mesmos, mas dá pra ver que ele se esforçou.

    Com altos e baixos, O Rei é um aceno da Netflix para produções um pouco mais ambiciosas e com um elenco estrelado. Ainda não é aquele resultado que o público espera, mas pode ser uma boa opção para quem estiver com dificuldade para dormir.

    Nota:

    Imagens: Netflix


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