Hollywood adora um filme sobre outro filme ou sonhos destroçados (e recuperados) em busca do estrelato. O Artista do Desastre poderia ser resumido como apenas mais um desses filmes, se não fosse pela tragicômica excentricidade de seu protagonista.
No filme, Tommy Wiseau (James Franco) é um misterioso aspirante a ator que, ao se tornar amigo de Greg (Dave Franco) em uma aula de atuação em São Francisco, decide que os dois devem perseguir seus sonhos em Los Angeles. Como? Ah, o Tommy tem uma casa lá.
Durante os primeiros meses os dois lidam com a dura realidade do sonho de Hollywood: passam por inúmeras agências, encaram um monte de sorrisos amarelos, mas trabalho que é bom, nada. Diante destas frustrações, eles comentam em fazer o seu próprio filme, pra não depender dos outros. Greg faz o que qualquer pessoa normal faria: segue buscando trabalho e consegue alguns papéis menores em teatro. Já Tommy faz o que só poderíamos esperar dele: passa todo o seu tempo escrevendo o roteiro do que seria o filme da sua vida e seu bilhete para o estrelato. Feito isso, finalmente vamos ao filme.
O longa em questão é The Room, considerado por muitos “o pior filme de todos os tempos”. Toda a produção é bancada por Tommy de uma forma tão misteriosa quanto a existência de seu apartamento em Los Angeles. Além do roteiro, ele dirige, produz e estrela a produção, que também conta com seu amigo Greg no elenco e mais alguns atores que, como percebemos, foram escolhidos sem muito critério pelo próprio Tommy.
As inaptidões de Tommy e seu gênio difícil são o grande chamariz durante a produção. Suas oscilações de humor nem sempre são motivo de risada, o que me lembrou um pouco do desconforto provocado por Jim Carrey em Jim & Andy: The great beyond. Há algumas pitadas de humor bem discretas, como legendas indicando “dia 58 de 40”, mostrando os atrasos na produção.
O filme é enquadrado como uma comédia, mas está bem distante dos outros trabalhos de Franco na direção. Há um tom meio agridoce no humor criado por ele, mais discreto e menos escrachado que o normal. Ainda assim, o filme tem um tom leve, sem focar tanto nos sacrifícios e frustrações que a indústria pode proporcionar.
Se como diretor James Franco não se impõe muito, adotando um estilo bem básico e tradicional de filmagem, ele consegue um pouco mais de destaque como ator. A gente não vê o James Franco ali, apenas o Tommy. Por este trabalho ele recebeu o Globo de Ouro, uma indicação ao SAG e não recebeu ao Oscar provavelmente por conta das denúncias de assédio sexual que surgiram do Globo pra cá. Eu não considero esta uma grande perda para a categoria, porque, embora divertida, a atuação não tem nada de memorável. Não é um personagem muito difícil de fazer e a partir de certo ponto os trejeitos de Franco passam a lembrar um pouco o Jack Sparrow de Johnny Depp: um esquisitão que te diverte até certo ponto até se tornar meio petulante.
Pra evitar que Tommy monopolizasse a produção, um acerto foi contar a história do ponto de vista de Greg, até porque o filme é baseado num livro escrito por ele. Dave Franco entrega um personagem convincente nas confusões de sua relação com Tommy, mas nada muito inesquecível. Há algumas boas pontas de atores famosos que não ajudam muito na história, mas divertem o público.
O filme, no entanto, não responde o grande mistério em questão: Tommy. Ninguém sabe direito de onde ele veio, quantos anos tem e muito menos de onde ele tem tanto dinheiro. Nem pesquisando na Internet a gente tem muita certeza, mas aparentemente ele é polonês, já morou na França, tem mais de 60 anos (uns 40 na época do filme), mas ninguém ainda sabe de onde vem tanto dinheiro.
De forma geral, o filme sobre o pior dos filmes é uma boa peça de entretenimento, que entrega diversão sem muito escárnio e uma história de esperança e persistência que não vai tentar arrancar lágrimas de você. Ah! E não precisa assistir The Room pra entender, mas talvez torne algumas piadas internas mais engraçadas.
Nota:
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