A poucos dias da maior premiação de cinema do mundo, ainda temos algumas dúvidas e especulações de como o Oscar 2018 pode ser influenciado (ou não) por movimentos como o #MeToo e o Time’s Up, que abordam desde o combate ao assédio em Hollywood até a igualdade de salários e reconhecimento entre gêneros. Embora premiações como o Globo de Ouro, SAG e Bafta tenham garantido bastante espaço ao movimento, com roupas pretas no tapete vermelho, apresentadoras mulheres, discursos e alfinetadas, é possível que o Oscar, por sua projeção, tenha esse tipo de manifestação um pouco diluída.
Isso seria bem frustrante para encerrar uma temporada de premiações que teve o discurso do respeito e da igualdade de gêneros tão forte. Porém, alguns sinais indicam que de alguma forma o #MeToo e o Time’s Up estarão lá sim. Como nós achamos que eles estarão presentes no Oscar:
Essa aqui é fácil porque já aconteceu. Não temos filmes das produtoras de Harvey Weinstein indicadas e isso já significa bastante coisa. Da mesma forma, acusados de abuso sexual, como os atores James Franco e Kevin Spacey, ficaram de fora: Franco ficou sem a indicação e Spacey com a substituição no filme Todo o dinheiro do mundo por Christopher Plummer, indicado a Ator Coadjuvante. Em busca de um pouco mais de diversidade, temos pelo menos uma mulher indicada na categoria de direção e a primeira indicada em cinematografia na história do Oscar (sim, só agora). Ainda assim, a Academia conseguiu deixar de fora nomes como Dee Rees, que fez um fantástico trabalho em Mudbound, mas né? Baby steps. Além disso, alguns dos principais indicados são filmes que contam histórias de mulheres, como Três anúncios para um crime, Lady Bird e até mesmo A forma da água. Sim, filmes com protagonistas mulheres já ganharam antes, mas o último filme a vencer na principal categoria com uma protagonista claramente mulher foi só Menina de Ouro, lááá em 2005.
Eu não acredito que o Oscar repetirá os vestidos pretos do Globo de Ouro e do Bafta (se bem que isso seria lindo). O tapete vermelho é um verdadeiro evento de moda, tem modelitos que já devem estar escolhidos há meses, de acordo com os contratos que os artistas fecham com as grifes. Ainda assim, aquele pin do Time’s Up pode surgir, ou talvez algum outro tipo de símbolo, caso a Academia proíba manifestações políticas com frases. A conversa com repórteres também deve seguir esse tom e fugir das banais perguntas limitadas ao figurino. Só esperamos que não sejam repetidas situações constrangedoramente sem sentido, como aquela do SAG, quando a Giuliana Rancic perguntou pra Alison Brie, cunhada do James Franco, sobre as denúncias de assédio dele. Pergunta pra ele! Colocar uma mulher em uma situação embaraçosa por causa de algo que um homem fez é a coisa mais ridícula que a gente viu nesta temporada de premiações.
Novamente, o apresentador Jimmy Kimmel tem a responsabilidade de não relevar ou ignorar o assunto do momento em Hollywood. A dificuldade aqui é acertar o tom, já que o Oscar tende a ser meio que um show de comédia. O Chris Rock teve um desafio parecido no ano do #OscarsoWhite, quando a falta de diversidade entre os indicados chamou a atenção. As piadas dele foram até leve demais. Esperamos que o Jimmy Kimmel coloque um pouco mais o dedo na ferida dessa vez. Diferentemente do SAG Awards, não acredito em apresentadoras de categorias 100% mulheres, mas ainda assim a Academia deve se atentar a esta questão e colocar mais mulheres no palco. De preferência chamem a Natalie Portman, que deu aquela alfinetada no Globo de Ouro.
Ah! Outro sinal de como estes movimentos já estão mudando as tradições do Oscar, o ator Casey Affleck não irá apresentar a categoria de Melhor Atriz. Pra quem não sabe, o vencedor do ano anterior sempre apresenta a mesma categoria do sexo oposto no ano seguinte. Como Affleck tem algumas denúncias de abuso contra ele, não faria sentido colocá-lo em evidência na premiação.
Nas últimas premiações as mulheres premiadas ou homenageadas tiveram muito forte a bandeira do fim do assédio e da igualdade em Hollywood. Podemos esperar o mesmo do Oscar, ainda mais com a audiência que a premiação tem em todo mundo. É uma ótima oportunidade de se fazer ouvir. Quem sabe alguns homens premiados também toquem no assunto. Por que não, né?
Aqui é mais uma torcida do que uma previsão. Fazer todo o estardalhaço agora e deixar o assunto morrer daqui a uns meses não serviria de nada. Há dois anos tivemos o #OscarsoWhite e nas duas últimas premiações vimos um pouco mais de indicados que abordam de alguma forma a questão da diversidade. Moonlight levou Melhor Filme e Pantera Negra está mandando muito bem nas bilheterias com um super-herói negro. Que o Time’s Up ajude a indústria a reconhecer não apenas o talento das mulheres na frente e por trás das câmeras, mas a se tocar de que histórias sobre mulheres interessam sim. E que essas histórias merecem tanto investimento, divulgação e prêmios como aquelas protagonizadas, dirigidas e roteirizadas por homens.
Confira a lista completa de indicados ao Oscar